Eu e a água sempre tivemos uma relação muito especial, em particular com a água do Mar. É sabido que a vida no nosso planeta começou há muitos milhões de anos na água e que nós, humanos, ainda transportamos dentro dos nossos corpos uma grande quantidade desse precioso líquido (mais de 70% do total). Como sabemos, sem água não há vida. A minha relação com a água tem sido diversa. A natação, a caça submarina, a canoagem, o mergulho autónomo, até as simples “carreirinhas” nas ondas, todas estas actividades têm-me ajudado a adorar e respeitar o Mar.

Há muitos anos que exploro o mundo subaquático. É um mundo como que encantado e que ao início receamos um pouco. Mas, à medida que nos vamos adaptando a ele, revela-nos o inigualável esplendor das mais diversas formas, cores e comportamentos dos seus silenciosos habitantes.

Conto-vos agora um dos encontros mais espectaculares que tive o privilégio de viver no mar com um “Senhor das Profundezas”.

Foi há pouco tempo na Reserva Natural do Garajau, bem perto do Funchal, na ilha da Madeira. Depois de um curto trajecto de barco, mergulhei nas águas cristalinas e quentinhas (21º) do Garajau. Com mais quatro mergulhadores fazemos uma suave descida até cerca de 25 metros de profundidade. À medida que me aproximo do fundo, observo o meu colega fotógrafo subaquático Pedro parado próximo daquilo que me parecia, à distância, uma rocha escura. Mas não era uma rocha! Era um enorme “Senhor das Profundezas”: um Mero com três metros de comprimento, uns prováveis 40/50 anos de vida, muitos quilinhos de peso e a quem carinhosamente chamam de “Riscas”! Algo receoso, mas também atraído, aproximo-me do “bicharoco” que calmamente me observa com o seu olho do tamanho do meu punho cerrado e que parece fazer uma pose já estudada para ser admirado e fotografado. Nem dava para acreditar que estava a viver aquele momento. Tinha sonhado muitas vezes com este encontro, mas vivê-lo supera tudo o que imaginara. Que espectáculo! Durante este mergulho e em outros que fiz no Garajau, vi outros Meros e muitos outros habitantes submarinos, mas o encontro com este “senhor”, que convosco partilho, foi mesmo inesquecível. Não me esqueço do que, com entusiasmo, exclamei para aos outros mergulhadores quando regressámos ao barco após este mergulho: “Esta… já cá mora!!!”. E mora mesmo como momento, simplesmente, inesquecível!

Por   António Miranda

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