Requiescant in pace

Ao Senhor Abílio, de regresso à Terra-Mãe:

Regresso


Regresso às fragas de onde me roubaram.

Ah! Minha serra, minha dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram,
Mal eu surgi, cansado, na distância!

Cantava cada fonte à sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.

Depois o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos

Aos deuses do meu velho paraíso.
Miguel Torga in Diário VI

Chão de Areia (LF)


Um comentário para “Requiescant in pace”

  1. Uma imensa sensibilidade na escolha do poema.
    O Sr. Abílio teria apreciado. Que descanse em paz.

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