Crime na Fabulândia

É chegado o momento de divulgar publicamente o resultado do Prémio Literário “Professora Patrícia Costa”. Autores de diferentes idades e inspirações deram-nos o prazer de, não apenas honrar a memória da Professora Patrícia Costa, mas também partilhar generosamente textos que saíram de inspirações tão diversas como adultos, crianças e jovens, textos de opinião, contos, fábulas e poemas.

O Júri integrou as Professoras Deonilde Almeida e Luiza Jerónimo e a mãe da inspiradora deste Prémio, Sra. D. Fernanda Costa.

Lidos os textos a concurso (entregues ao júri sob absoluto anonimato, de acordo com as regras estabelecidas), os jurados decidiram, por unanimidade, atribuir o Prémio a uma fábula – Crime na Fabulândia, de José Maria Silva.

A todos os concorrentes, jurados e demais apoiantes, o sentido agradecimento de todos quantos se empenharam neste trabalho, que tem dado os primeiros passos de forma persistente, empenhada e honesta.

Aqui fica o início do texto vencedor:

Luísa Figueiredo

 

CRIME NA FABULÂNDIA

 

Prólogo

Entre a Floresta Encantada e o Bosque do Feitiço havia um deserto, cuja travessia demorava quase um dia inteiro. A via de ligação era conhecida por Caminho das Estacas, devido às enormes hastes cravadas no chão a distâncias regulares, tão altas que nunca ficavam cobertas pelas tempestades de areia. Tanto os habitantes de um lugar, como do outro, faziam travessias frequentes e aproveitavam para pernoitar alguns dias, em casa de familiares, no lado oposto da larga extensão de areia.

Embora existisse um pequeno oásis, mais ou menos a meio, os viajantes raramente lá permaneciam muito tempo, devido ao vento que fustigava frequentemente o local.

Tudo decorria em paz e harmonia, até que foi encontrado morto um besouro dourado, trespassado por um longo espinho de Pereskia Grandifolia.

Capítulo 1

Junto à Lagoa Norte, numa abertura entre os salgueiros e os juncos, encontrava-se, com os seus óculos de finos aros metálicos encavalitados na cabeça, um grande sapo velho, de pele malhada em tons de castanho e amarelo. Aproximou-se um pequeno coelho castanho claro, que era branco por baixo e não trazia óculos.

– Bom dia senhor Sapo! – disse o coelhinho.

– Olá meu rapaz, o que te traz aqui?

– Venho beber água, posso? Hoje tenho muita sede!

– Claro. A Lagoa, como tudo aqui na Floresta, é de todos nós! Bebe à vontade. E como te chamas? Não te conheço!

O leporídeo, com as mãos dentro de água, assentes nos seixos que constituíam o fundo da Lagoa, levantou a cabeça, olhando ligeiramente para trás, e respondeu:

– Sou o Tarola!

– Estarola?

– Não, Tarola!

– Mas isso não é um tambor? – perguntou o sapo.

– O Tambor é meu primo, mas vive longe. Eu também vivia, mas agora passei a ser um coelho de importação…

Intrigado, o sapo inquiriu:

– Mas o que é isso, “de importação”?

O coelho esclareceu:

– Trouxeram-me para cá. Não sou uma espécie autóctone aqui da Floresta. Os membros da minha raça estavam extintos por aqui…

O anfíbio interrompeu:

– É verdade, há muito tempo que não via nenhum coelho!

– Sim, apanharam-me a mim, à minha irmã e aos meus pais, mais uns tios e os filhos deles, colocaram-nos em caixas e passados três dias soltaram-nos aqui… mas acho que os meus tios ficaram noutro local, pois não os voltei a ver.

– E gostas de cá estar?

– Claro, senhor Sapo, até já fiz amigos e tudo: o raposinho Felpudo, a marta Fofinha e o ouriço Piquinhos! Estou melhor do que onde vivia antes, mas estou longe do Tambor! …Quase não vi nada para fora, mas acho que vim de carro, depois de avião e a seguir outra vez de carro. E o senhor, já andou de avião? Eles às vezes passam aqui por cima, já vi quatro.

– És esperto, rapaz. Queres ser meu ajudante? Sou o investigador principal aqui da Floresta. E trata-me por Mister Toad – continuou o sapo – diz-se: “missetâr tâude”.

Confuso, o coelho não se conteve e disse:

– Mas que nome estranho, senhor Missa Tartoude…!

– Eu explico. Sou de origem inglesa, os meus ancestrais viviam, há muitos anos, mesmos muitos, no West End, em Londres, nos quintais de Baker Street. O trisavô do tetravô do meu tetravô conviveu de perto com um grande investigador que lá viveu, talvez o melhor de sempre, e aprendeu muito com ele…

– Não estou a perceber nada.

– Com o tempo vais perceber! Seguiram-se gerações de investigadores na família, até chegar a mim. Não sei como os meus antepassados cá vieram parar, talvez com plantas trazidas de lá ou no baú de algum mágico, mas a verdade é que os meus avós já nasceram aqui na Floresta. Por isso é que tenho este nome. Mister é o mesmo que senhor, portanto não precisas de dizer senhor, mas nunca te refiras a mim apenas como o “Mister”, diz sempre “Mister Toad”, não quero que me confundam com um treinador de futebol. Já percebeste?

[ Continua aqui. ]

3 comentários para “Crime na Fabulândia”

  1. Os comentários, mesmo sem serem uma profusão, são sempre um incentivo para quem escreve e para quem lê.

    Agradeço a todos.
    JML

  2. Um texto muito divertido, criativo e simples! Parabéns ao José Maria e aos membros do júri.

  3. Parabéns, Zé!
    Obrigada pelos excelentes momentos que passei a ler esta fábula maravilhosa!
    bjs
    Conceição Silva

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