Aquilino Ribeiro

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“Alcança quem não cansa”.

Ficcionista, autor dramático, cronista e ensaísta português, estudou em Lamego e em Viseu, vindo para Lisboa em 1901. Ex-seminarista, dedicou-se ao jornalismo, tendo colaborado, entre outras publicações, com Jornal do Comércio, O Século, A Pátria, Ilustração Portuguesa, Diário de Lisboa, República, e fundou em 1921 com outros Seara Nova.

Ligado ao movimento republicano, interveio ativamente na revolução, chegando mesmo a ser preso. Fugiu para Paris, frequentou a Sorbonne e escreveu o seu primeiro livro, intitulado “Jardim das Tormentas”, em 1913.

Regressou a Portugal depois da eclosão da Grande Guerra em 1914, foi professor e conservador na Biblioteca Nacional até 1927, altura em que, por razões políticas, de novo se viu forçado de a sair do país onde acabaria por se instalar definitivamente em 1933.

Em 1956, foi eleito o primeiro presidente da Associação Portuguesa de Escritores, em reconhecimento da sua obra e da sua postura cívica quase heróica.

Revelando um Portugal ancestral, perdido num tempo e num espaço, onde a ação do homem dependia da natureza, dos instintos, de uma religiosidade popular próxima da crendice e até da superstição, a obra de Aquilino Ribeiro abrange domínios diversos como a ficção, o jornalismo, a crónica, memórias, ensaio, estudos de etnologia e história, biografias, crítica literária, teatro, literatura infantil, polémicas e traduções. Merecem destaque “Terras do Demo” (na suas palavras, “do demo porque por aqui nem Cristo nem el-Rei passaram. É terra brava, agreste, esquecida de Deus,…”), em 1919, “O Malhadinhas” (primeira versão em 1922), “Andam Faunos pelos Bosques” (1926), “O Romance da Raposa” (dedicado ao primeiro filho Aníbal), em 1929, “Arca de Noé – III classe” (inspirado pelo segundo filho, Aquilino), em 1936, “Cinco Réis de Gente” (1948), “A Casa Grande de Romarigães” (1957), “Quando os Lobos Uivam” (1959) e “O Livro de Marianinha” (dedicado à neta Mariana), escrito em 1962 e publicado postumamente em 1967

Dele se diz que é um escritor difícil, que não poucos, pegando num livro seu, acabaram por desistir e que os resistentes (“Alcança quem não cansa”) o fizeram com o dicionário à mão, perante a abundância de regionalismos, o léxico popular, o linguajar e as ladainhas da Beira, paisagem humana da sua literatura.

É em Soutosa, Moimenta da Beira, Viseu, que está a sua Casa-Museu, Fundação Aquilino Ribeiro, criada em 1988 pelo filho mais velho do escritor, Aníbal.

Os seus restos mortais foram trasladados para o Panteão Nacional em 2007.

 

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Trepávamos pelas árvores aos ninhos,

mas eram mais finos do que nós, os passarinhos,

e íamos declamando à troca-baldroca:

– Eu sei o ninho

dum carrapichinho…

– E eu sei um ninho de gafamagafe

com cinco gafamagafinhos.

Armaram o laço à gafamagafe

e ficaram desgafamagafinhos

 

os cinco gafamagafinhos.

Caçávamos os insectos estridulantes,

cigarras, ralos e alguns volantes:

Mestre besouro,

nem prata nem ouro,

fungador

como um toiro;

nas suas horas dançador

e acrobata-saltador,

se dá na vidraça,

não a estilhaça

mas faz-lhes dar estoiro

como um pelouro.

in O Livro da Marianinha

 

Leia aqui parte do Relatório da Censura à obra “Quando os Lobos Uivam”.

 

MJLeite

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