Herberto Helder

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Nascido no seio de uma família de origem judaica, veio para Lisboa aos 16 anos para concluir os estudos liceais. Em 1948, matriculou -se na Faculdade de Direito de Coimbra, mudando, em 1949, para a Faculdade de Letras onde frequentou Filologia Românica, não tendo terminado o curso.

De regresso a Lisboa, trabalhou durante algum tempo na Caixa Geral de Depósitos e depois como angariador de publicidade.

Em 1954, data da publicação do seu primeiro poema em Coimbra, regressou à Madeira onde trabalhou como meteorologista. Quando, em 1955, regressou a Lisboa, frequentou o grupo do Café Gelo, convivendo com Mário Cesariny, Luiz Pacheco, António José Forte, João Vieira e Hélder Macedo. Durante este período, trabalhou como propagandista de produtos farmacêuticos e redator de publicidade. Três anos mais tarde, em 1958, publicou o seu primeiro livro, “O Amor em Visita”. Durante os anos que se seguiram viveu em França, Holanda e Bélgica, países nos quais exerceu diversas profissões: operário numa forja, empregado numa cervejaria, cortador de legumes numa casa de sopas, empacotador de aparas de papéis, …

Em 1960, de novo em Portugal, foi encarregado das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, percorrendo as vilas e aldeias do Baixo Alentejo, Beira Alta e Ribatejo. Nos dois anos seguintes publicou os livros “A Colher na Boca”, “Poemacto” e “Lugar”.

Em 1963 começou a trabalhar para a Emissora Nacional como redator de noticiário internacional, publicando nesse mesmo ano “Os Passos em Volta”. Em 1964, trabalhou nos serviços mecanográficos de uma fábrica de louça, datando desse ano a sua participação na organização da revista Poesia Experimental.

Em 1967, publicou “Húmus”, “Retrato em Movimento” e “Ofício Cantante” e, em 1968, na sequência da sua participação na publicação de um livro sobre o Marquês de Sade, viu-se envolvido num processo judicial no qual foi condenado e que, não obstante a suspensão posterior da pena, determinou o seu afastamento da Rádio e da Televisão portuguesas. Refugiou-se, então, na publicidade e, posteriormente, numa editora onde foi diretor literário. Ainda nesse ano publicou os livros “Apresentação do Rosto”, que foi suspenso pela censura, e “O Bebedor Nocturno”.

Entre 1970 e 1975 viajou por Espanha, França, Inglaterra, Bélgica, Holanda e Dinamarca, Estados Unidos da América, voltando para Portugal, ainda em 1975, onde trabalhou na rádio e em revistas, tendo, no ano seguinte, participado na edição e organização da revista Nova.

Ligado ao movimento da poesia concretista ou experimental e considerado um dos mais originais poetas contemporâneos de língua portuguesa,  a sua poesia está associada ao questionamento do eu, à presença de medos, ao conhecimento do humano, a um certo misticismo, servidos por uma linguagem original e de grande riqueza metafórica.

É conhecida a sua “aversão” a aparições públicas, a entrevistas, ou manifestações de reconhecimento da sua notoriedade, tendo recusado, em 1994, o Prémio Pessoa.

 

Consulte aqui a bibliografia.

 

O Poema

Um poema

cresce inseguramente

na confusão da carne.

Sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,

talvez como sangue

ou sombra de sangue pelos canais do ser.

 

Fora existe o mundo.Fora, a esplendida violência

ou os bagos de uva de onde nascem

as raízes minúsculas do sol.

Fora, os corpos genuínos e inalteráveis

do nosso amor,

rios, a grande paz exterior das coisas,

folhas dormindo o silencio

a hora teatral da posse.

 

E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

 

E já nenhum poder destrói o poema.

insustentável, único,

invade as casas deitadas nas noites

e as luzes e as trevas em volta da mesa

e a força sustida das cisas

e a redonda e livre harmonia do mundo.

Em baixo o instrumento perplexo ignora

a espinha do mistério

 

– E o poema faz-se contra a carne e o tempo.

 

Leia aqui outros poemas e citações do escritor.

 

MJLeite

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