Como Se Fez – 26: Elipse

Elipse

Alguns fotógrafos dizem que a vinhetagem não é um efeito, é um defeito, mas não é bem assim, pois a vinhetagem pode ser intencional, como nesta imagem, afinal, entre outros significados, vinheta é também uma cercadura que ornamenta uma composição gráfica e… também se dá este nome a qualquer um dos quadradinhos que constitui uma Banda Desenhada, mas isso já é outra história.

A luz, devido às suas caraterísticas físicas não chega na mesma quantidade ao cento e aos cantos da imagem fotográfica, porque, para chegar aos cantos desvia-se mais, percorrendo um trajeto mais longo, existindo assim uma ligeira redução da exposição nos cantos, que ficam mais escuros. A isto chama-se vinhetagem.

A vinhetagem pode ser involuntária, resultando da utilização de uma objetiva com reduzido círculo de iluminação ou de qualquer acessório que bloqueie a iluminação dos cantos, ou ainda pode ser criada com uma máscara. Nas fotografias antigas (século XIX) era frequente tirar-se partido da vinhetagem para destacar o motivo central da imagem, tanto a branco como a preto. Este efeito era criado na revelação dos positivos, com o recurso a máscaras que bloqueavam a luz na zona central ou nas margens, conforme se pretendesse o resultado final. Presentemente este tipo de vinhetagem voltou a ser usado, existindo a possibilidade de o criar ou acentuar na pós-produção. Apesar de ser bem mais simples no, menos usado e mais barato, PaintShop Pro, da Corel Corporation, segue-se um link para quem o pretenda fazer utilizando o Photoshop, que quase toda a gente conhece:

http://www.tutoriart.com.br/como-criar-efeito-vinheta-photoshop-3-metodos/

As objetivas das máquinas fotográficas são circulares e os sensores (ou os fotogramas da película) são retangulares. Se sobrepusermos a área circular da imagem captada, ao retângulo do sensor, verificamos, sobretudo na película ou nos sensores “full frame”, que os vértices do retângulo tocam ou estão muito próximos do limite circular da área coberta pela maioria das objetivas. Existe, portanto, um desperdício de parte do círculo de iluminação, que não incide no sensor, mas esta zona não aproveitada nem se vê na ocular, porque esta também é retangular, de formato proporcional ao do sensor. Ver ilustração abaixo.

Só as objetivas que têm um círculo de iluminação mais amplo permitem enquadramentos sem perda de iluminação. Vejamos a explicação: De uma forma muito simplista podemos dizer que, para as máquinas reflex, existem sensores com dois tamanhos, os “full frame” (que têm os 24X36 mm da película de 35 mm) e os DX ou APS, que são mais pequenos, rondando os 24X16 mm, dentro da proporção de 3:2. (Recordemos que existem mais de 10 tamanhos diferentes, só os APS são 3). Se usarmos uma objetiva concebida para uma câmara “full frame” num sensor APS, não há vinhetagem porque a objetiva capta uma área consideravelmente maior que a necessária. Se instalarmos uma objetiva concebida para um sensor APS numa “full frame”, temos vinhetagem.

Para além desta vinhetagem, que é normal e quase sempre insignificante se for utilizada uma objetiva adequada, existe a vinhetagem involuntária que pode resultar da colocação de vários filtros à frente da objetiva ou da utilização de um para-sol inadequado, cujo resultado será o escurecimento dos cantos. Este bloqueio da passagem da luz pode não ser percetível durante a captação da imagem, devido ao facto de, nalgumas câmaras, a ocular não mostrar a totalidade da área do enquadramento.

Mas ainda existe um terceiro tipo de vinhetagem, o intencional, criado logo na pré-produção, como nesta imagem, recorrendo a uma máscara que pode ter qualquer formato, neste caso elítico, mas pode ser em forma de buraco de fechadura ou qualquer outro. Devemos recordar-nos do primeiro Como Se Fez deste ano letivo, cujo título é Fruta Fogosa, trata-se de um Fisiograma cuja área estava limitada pela máscara que usei como vinheta para o rasto da chama. Pode ver-se abaixo esta máscara de cartolina, mas aqui sem ter a sala às escuras, portanto o preto ficou cinzento.

Vinhetas

Para fazer a fotografia do início do artigo, coloquei a cartolina preta à frente da objetiva, tendo o cuidado de ficar à sombra para não ter a máscara iluminada. Escolhi uma abertura que não permitisse profundidade de campo suficiente para ter nítido o contorno da máscara.

José Maria Silva

 

2 comentários para “Como Se Fez – 26: Elipse”

  1. As coisas que eu aprendo nesta rubrica… “vinhetagem” – nem conhecia o nome.
    Em tempos idos, usei uma técnica semelhante, para dar recorte oval, com esbatimento dos limites, aos postais que eram oferecidos com as fotografias “tipo passe” – eram as então chamadas “fotografias artísticas”, com poses forçadas, de inspiração cinematográfica…

  2. Mais um artigo muito bom e interessante!

Enviar