Desconhecido

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Há um homem, na casa dos 50-60 anos, cujo nome desconheço, que mora do outro lado da rua. Parece bastante normal, é um homem, que mora do outro lado da rua, normalíssimo. Mas este homem tem algo bastante peculiar.

          Mora num quarto arrendado, numa casa decadente, tem pouco cabelo e a cabeça quase careca é composta por uns finos fios de cabelo grisalho, tem uma cara extremamente enrugada, de onde sobressaem uns olhos esbugalhados, um nariz grande e tosco, e uma boca com dentes mal cuidados. Usa normalmente um, um vestuário casual, calças de fato de treino, camisola tipo sweater larga, e uns óculos com lentes redondas e sem aro.

         Não sei praticamente mais nada sobre este homem, sei que chegou a trabalhar como segurança numa escola, a minha escola, que era uma profissão irónica para o velho corcunda, carrancudo e com ar medonho. Para além disso, sei que todas as noites por volta das onze horas, dá um longo passeio, de cujo trajeto só conheço o início e o fim. Todos os dias faz este passeio, com chuva, frio, ou calor, é uma rotina inabalável, como os ponteiros de um relógio que oscilam entre o TIC e o TAC. Limito-me a imaginar qual é o compromisso que o faz deslocar-se todos os dias, à mesma hora. Talvez só queira fazer um pouco de exercício físico, ou talvez tenha um afazer obscuro. Todas estas hipóteses são suposições, com poucas provas, nenhuma está errada, mas nenhuma está certa…

         Não sei qual é a história deste homem, que desilusão e desgostos o tornaram assim, e não em que direção a estrada da vida o levou, mas, todos os dias, leva na cara uma máscara de indiferença e desprezo total, com um sossego natural, de quem não tem qualquer preocupação. É por isso que me intrigo sobre este homem, Desconhecido…

 

Miguel Marôco (10.º C)

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