Gonçalo Cadilhe

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         Viajar pelo mundo e escrever sobre ele é a minha profissão. Sou um trabalhador dedicado e assíduo e em vinte anos nunca faltei um dia ao emprego. Tenho mais de 40 anos e amo Portugal – de preferência de longe e explicado a estrangeiros. Acredito no comboio, na bicicleta, no barco, na conversa, no copo de vinho e em outros meios de transporte que levam longe mas não têm pressa de chegar. […]

           […] Quando me perguntam o que me fez largar uma vida segura, um trabalho, uma casa, uma família, para viajar pelo mundo, respondo que foi exatamente o mesmo que faz com que outra pessoa não largue uma vida segura, um trabalho, uma casa, uma família – ou seja, uma ideia de nós próprios e de onde reside a nossa felicidade.” […]

                                                                            in “Um Lugar Dentro de Nós”

Nascido na Figueira da Foz, cidade onde cresceu e que mantém como residência, licenciou-se em Gestão de Empresas na Universidade Católica do Porto, em 1992, frequentando, em simultâneo, a Escola de Jazz do Porto.

Depois de uma breve passagem pelo mundo da Gestão de Empresas, em 1993 começou a viajar e a escrever sobre viagens. Tem doze livros publicados e assinou três documentários de viagens para a RTP2. Organiza e acompanha mini-tours pelo globo em colaboração com a agência PLV (Pinto Lopes Viagens que, em 2012, lançou o projeto Viagens com Autores, desafiando escritores nacionais a assumirem o papel de guias turísticos nos locais que serviram de inspiração aos seus livros, sendo, no presente ano, Gonçalo Cadilhe um dos quatro autores residentes).

Publicou a sua primeira reportagem de viagens, dedicada ao México, no número de fevereiro de 1992 da já extinta revista Grande Reportagem, dirigida por Miguel Sousa Tavares.

Nos primeiros anos da sua carreira de “viajante profissional”, na década de 90, para complementar financeiramente as magras receitas das colaborações em algumas revistas portuguesas, exerceu variadíssimas atividades: músico da banda de Claudia Pastorino, no night-club “Sapore di Mare”, na Riviera Italiana; vindimador em França; operário de estaleiro em Itália; empregado de mesa no famoso restaurante “Puny”, em Portofino, Itália.

A partir de 1996 dedicou-se exclusivamente ao jornalismo de viagens. Ao longo destes anos colaborou, para além da já referida “Grande Reportagem”, com o “Independente”, com a “Elle”, com a “Epicur”, com o “Blitz”, com o “Expresso” e com o programa da manhã da Antena 1. Atualmente escreve crónicas no suplemento da Visão “Vida e Viagens” e na “SurfPortugal”.

Em dezembro de 2002, iniciou uma viagem à volta do mundo, sem transporte aéreo, que durou 19 meses, percorrendo 38 países, viagem que foi publicada semanalmente, “em direto”, no Expresso, dela resultando o livro “Planisfério Pessoal”, editado em 2005, atualmente na oitava edição. Seguiram-se “No princípio Estava o Mar”, recolha de crónicas sobre surf editadas na revista Surf Portugal; “A Lua Pode Esperar”, contos de viagens, em 2006; “África Acima” (obra inserida no Plano Nacional de Leitura), em 2007, que recolheu as reportagens de uma travessia terrestre de 8 meses desde o extremo sul ao extremo norte do continente africano.

Em 2007, percorreu os lugares da vida de Fernão de Magalhães, resultando desse projeto um documentário de 8 episódios para a RTP2, e o livro “Nos Passos de Magalhães”, publicado em 2008, também integrado no Plano Nacional de Leitura.

Em 2008, partiu para uma nova longa viagem à volta do mundo com o intuito de celebrar o seu quadragésimo  aniversário, saindo nesse ano uma compilação das suas histórias de viagem preferidas, “Tournée”. Ao longo da viagem, recolheu material para um próximo documentário para a RTP2, “Geografia das Amizades”, transmitido em 10 episódios durante o verão de 2010.

Durante 2010, ano de comemoração dos 500 anos do nascimento de Fernão Mendes Pinto, dedicou-se à produção de um novo documentário para a RTP2 sobre a vida e a obra do autor da “Peregrinação”. “Nos Passos de Fernão Mendes Pinto” foi filmado em vários países da Ásia e contou com a participação de alguns dos académicos portugueses mais instruídos na vida, obra e personalidade de Mendes Pinto.

Em 2010, foi publicado “O Mundo É Fácil – Aprenda a viajar com Gonçalo Cadilhe”, manual para viajantes independentes e uma partilha da sua experiência  com todos aqueles que sonham correr mundo. Mais tarde, e de certa forma para complementar esta obra, publicou uma agenda para viajantes, uma espécie de livro em branco cuja viagem será a do próprio viajante.

Em 2011, foi publicada a obra “Encontros Marcados”, uma forma mais intimista e serena de escrever sobre uma vida de viagens.

Seguiram-se-lhe “Um Lugar Dentro de Nós”, em 2012, conjunto de textos que vagueiam entre a crónica, o ensaio, a reportagem, o diário e a memória, e “Passagem para o Horizonte”, em 2014.

 “Um Dia na Terra – Fotografias do Quotidiano do Planeta” é o nome do livro sobre o qual afirmou que o fio condutor do livro “é tudo o que diria a um alien”, e também da exposição inaugurada no passado dia 14 de maio, no Museu do Oriente, e que pode ser vista até 7 de junho. As 57 imagens resultam de uma seleção eclética e pessoal de registos captados em diferentes continentes, culturas, paisagens e lugares. Das grandes panorâmicas aos pormenores intimistas, Um Dia na Terra acompanha as três dimensões solares do planeta – manhã, tarde e noite – ilustrando o dia a dia dos seus habitantes em toda a sua diversidade e singularidade. Para partilhar as suas experiências e as histórias por detrás das fotografias, Gonçalo Cadilhe organizou dois percursos comentados à exposição (ambos esgotados).

Um dos valores que eu acho mais importante para quem viaja e, portanto, um dos que cultivei e cresceu em mim em 20 anos de experiências, é o valor da relativização. O que quero dizer com isto é que, quando não saímos da nossa cultura, do nosso país, temos a tentação de olhar para o que nos pertence como o centro do mundo. E ao viajar apercebemo-nos de que é tudo muito relativo. Aquilo que para nós são dogmas absolutos, são verdades sem discussão, saindo das nossas fronteiras passam a não ter valor nenhum ou muito pouco. Nesse sentido, a ideia do “alien” é a de explicar a alguém que está livre, liberto de preconceitos sobre o resto da humanidade, e claro que a figura do extraterrestre que não sabe nada do planeta chega aqui com um olhar virgem. Então eu, que tenho cultivado esse valor da relativização, poderia abordar o planeta de uma forma precisamente livre de preconceitos, de uma forma mais tolerante e é isso que eu acho que passa na exposição. Acho que é isso que o visitante vai colher: a mensagem de olharmos sempre para o que nós temos como absoluto, como dogmático com uma nova relativização.

 

Consulte aqui a bibliografia.

 

MJL

Um comentário para “Gonçalo Cadilhe”

  1. Mais um excelente resumo de um escritor muito particular! Conheço alguns trabalhos televisivos e pequenos excertos. Este artigo motivou-me a ler mais Miguel Cadilhe, afinal também adoro viajar.

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