Uma Reflexão

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METAMORFOSE HUMANA:

As pessoas têm uma ideia errada do que são as estrelas, já inúmeras vezes me disseram que todos os nossos entes queridos depois de morrerem se “transformam” em estrelas de maneira a poderem zelar por nós, aí está o protótipo de uma teoria completamente errada. Digo isto pois descobri recentemente que antes de ser recém-nascida, ou mesmo antes de ser um feto fui uma estrela.

Eis que neste parágrafo explicarei o porquê da minha teoria. As estrelas não são eternas, elas nascem e desaparecem. Graças a uns físicos que já completaram o seu papel, aqui em Terra, há alguns séculos, sabemos que algumas estrelas para que olhamos nas noites limpas estão desaparecidas (não irei explicar o fenómeno para ir mais direta ao assunto e para não ocupar a paciência de quem lê), essas estrelas, supostamente mortas mas que continuamos a ver são um “eu” distante, que nos observa sem nos observar até um período da nossa vida, depois vão-se e deixam-nos por fim, totalmente confinados à Terra e aos aspetos mundanos.

Nós, seres humanos, sofremos de uma espécie de metamorfose. Dito isto começarei: na primeira fase desta tal espetacular metamorfose somos estrelas, chamo a esta etapa o «Pré-nascimento» e sendo estrelas temos uma única missão que abrange variadíssimas lições diferentes. É na fase «Pré-nascimento» que aprendemos a respirar, a movermo-nos, a emitir sons agudos ou grotescos, a crescer, a comunicar através de gestos ou expressões, entre outras aprendizagens tanto ou menos importantes. Afinal como é que os cientistas acham que nós começamos a respirar? Assim do nada ou por puro instinto? Não, não me parece! Esta fase poderá ser também conhecida como a fase da «contemplação» isto porque se resume a anos sem fim de observação de seres humanos para que, uma vez em Terra, saibamos como agir.

Passamos à segunda fase, a minha preferida e à qual denominei de «Fase Mundana»; esta consiste em tantas missões e tão diferentes umas das outras que tenho quase a certeza de que numa das minhas tentativas de as enumerar me perdi na segunda! Nesta parte específica da metamorfose aprendemos a sentir, aprendemos a falar, aprendemos a escrever, aprendemos que algumas estrelas para que olhamos nas noites frias, enquanto nos aconchegamos no cobertor macio e deitamos a cabeça para que depois de um longo dia possamos por fim fechar os olhos, estão já mortas ou desvanecidas,…

Penso que, aliás tenho quase a certeza total de que vão concordar comigo, o sentimento é de facto uma qualidade magnífica que nós possuímos. Quando falo de sentir não me limito ao amor, à alegria, à tristeza e todos esses sentimentos fortes e psicológicos, refiro-me também a sentir o calor, o frio, o sabor agreste, doce ou salgado da comida, sentir o toque de alguém, sentir o papel do livro que estamos a ler, sentir a caneta a correr pelo papel deixando para trás o seu rasto colorido, sentir ínfimas coisas que no fim se resumem à experiência de uma vida.

Algo me diz que todos os sentimentos acabam por estar ligados, lembro-me agora de uma situação em que vários “sentires” se me ocorreram no mesmo, inesquecível momento: era uma noite fria e o vento tendia a passar pelas frestas da janela, a lareira ardente crepitava, deixando connosco um calor aconchegante e uma melodia embalante, o jantar na mesa enchia o meu paladar de sabores igualmente quentes e de cheiros já conhecidos pelo meu olfato, a conversa era deveras animadora mas se querem que eu seja sincera já não me lembro qual o assunto tratado, talvez literatura ou filosofia mas quem sabe? O tema que corria pela boca dos oradores é quiçá uma das memórias deixadas no passado com a estrela que um dia desapareceu. Todavia, voltando ao primeiro pensamento, os sentimentos interligaram-se naquele momento e a sua aliança trouxe-me outros sentimentos, uns sentimentos que há minutos atrás voltei a sentir por relembrar este tão recente… ou tão distante… instante, esses sentimentos são por todos conhecidos, não são nada mais, não são nada menos que o regozijo, a jovialidade, o contentamento, sentimentos os quais que se virmos no dicionário são meros sinónimos.

A «fase mundana» é de facto um privilégio, é um momento em que podemos decidir, é o momento em que podemos sentir, é isto é aquilo e não consigo descrever o quão é bom!

A morte é parte desta fase e ainda bem que o é. Já muitos cobiçaram a vida eterna mas se realmente a tivessem obtido o seu arrependimento seria igualmente duradouro, não podemos mudar o natural caminho da vida, podemos prolongá-lo mas acabará sempre por haver um fim.

Andei por muito tempo com uma questão: porque é que alguns morrem em paz e outros em sofrimento, doentes, física ou psicologicamente? De facto ainda não obtive nenhuma resposta mas sei que não está relacionado com o que fizemos em vida. Se é injusto também não posso afirmar porque este tipo de perguntas estão muito para além das minhas reduzidas capacidades.

O envelhecimento é inevitável, não são operações, não é a roupa nem os remédios estimulantes que vão alterar este processo. Ser-se velho, ter-se rugas, cabelos brancos, etc. é bom pois significa que somos humanos, que amadurecemos e que a nossa próxima fase se está a aproximar, é simplesmente bom. Falo no assunto sem contradizer o facto de que se ser jovem é divino, porque é, é enquanto jovens que nós experienciamos, que levamos os sentimentos até aos seus pontos mais extremos, que testamos os nosso limites e é enquanto jovens que aprendemos o que é ser se humano (divago com certeza, sou jovem e sinto que nesta época é esta a minha missão).

A terceira fase de uma longa metamorfose vai ser o tema a partir desta frase, a princípio chamei-lhe de «pós-morte», contudo é um nome demasiado rude para uma fase final e depois d e muito debater acerca da sua denominação cheguei a «Além da Vida» e assim ficou.

Esta fase é talvez a mais difícil de explicar e para perceber é preciso ter a mente aberta, nesta parte da metamorfose somos invisíveis aos olhos do que outrora fomos, somos invisíveis aos olhos dos que deixamos na «fase mundana» por eles podemos apenas ser sentidos, somos almas.

Ser uma alma consiste num papel diversificado, sendo almas podemos ser um raio de sol, um rasgo de vento, uma pinga de chuva, um relâmpago, uma gota de vapor de água numa nuvem distante, a brisa fresca num dia escaldante ou uma labareda que partilha momentos. Somos um raio de sol para aquecer, um rasgo de vento para abanar ou para brincar um pouco, somos uma pinga de chuva para refrescar ideias, somos um relâmpago para fazer estremecer ou para chamar à atenção, uma gota de vapor de água para observar tudo de um patamar mais elevado, a brisa fresca para desanuviar e uma labareda para aconchegar. De noite somos sonhos, somos vultos ou para alguns fantasmas.

Se acredito em Deus, Alá ou noutra qualquer entidade divina? Honestamente não sei . Espero vir a descobrir nesta ou noutra vida… o que eu sei é que antes, durante ou depois da vida temos missões e só seremos verdadeiramente felizes se enquanto conscientes das nossas ações possamos dizer: “Eu tentei”.

 

Teresa Charters Saldanha.

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