António Alçada Baptista

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Nascido em 29 de Janeiro de 1927 na Covilhã, aí fez a 4ª classe e os estudos secundários, dos 9 aos 17 anos, com os Padres Jesuítas do Colégio de Santo Tirso. Ingressou na Faculdade de Direito de Lisboa, em 1945, tendo exercido advocacia durante cinco anos.

Em 1953, entrou para a Direção do Centro Nacional de Cultura, dela fazendo parte de novo em 1959, sendo eleito Presidente em 1972, permanecendo na instituição em cargos de relevo até 2001.

Em 1957, estreou-se na atividade editorial comprando a Livraria Morais que dirigiu durante quinze anos.

Foi candidato pela Oposição Democrática nas eleições para a Assembleia Nacional, pelo Distrito de Castelo Branco em 1961 e 1969.

Em 1963, fundou a revista “O Tempo e o Modo”, símbolo da geração de 60, de que foi director até 1969.

Foi a partir dos anos 70 que começou a colaborar regularmente com crónicas na rádio, televisão e em diversos jornais e revistas: sucedeu a Vitorino Nemésio na direcção do jornal “Dia”; foi diretor da “Edição Especial”; escreveu crónicas para os jornais “A Capital”, “Semanário” e “Jornal do Brasil”.

Foi assessor para a Cultura, de 1971 a 1974, do então Ministro da Educação Nacional, Veiga Simão, publicando em 1973 as obras “O tempo nas Palavras” e “Conversas com Marcello Caetano”.

Em 1978, enquanto funcionário da Secretaria de Estado da Cultura, presidiu aos trabalhos de criação do Instituto Português do Livro, de que foi Presidente até 1986 e no âmbito do qual estimulou a criação, o desenvolvimento e a animação da Rede Nacional de Bibliotecas de Leitura Pública. Patrocinou a reedição de Clássicos de Literatura Portuguesa e a organização do Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, organizando outras ações de promoção da leitura e de apoio à edição e à divulgação de autores portugueses em Portugal e no estrangeiro, destacando-se o seu empenho no estreitar das relações culturais com o Brasil e com os países africanos de língua oficial portuguesa, em especial Cabo Verde e Moçambique.

Em 1982, publicou “II Volume da Peregrinação Interior O Anjo da Esperança” e, dois anos depois, “Uma vida melhor”.

Foi condecorado, em 1983, com a Ordem Militar de Cristo pelo Presidente da República Ramalho Eanes, e foi distinguido, em 1995, com a Grã-cruz da Ordem do Infante pelo Presidente da República Mário Soares.

Presidiu em 1985 às Comemorações do Centenário da morte de Fernando Pessoa.

Estreou-se como romancista e novelista com “Os Nós e os Laços”, obra distinguida com o Prémio Literário Município de Lisboa (prémio de prosa e ficção) e o Prémio P.E.N., Clube Português de Ficção.

A convite de Mário Soares presidiu, entre 1988 e 1998, à Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Na década de 90, integrou a Direcção da Sociedade Portuguesa de Autores e foi cronista da revista Máxima, onde se manteve até 2006.

Foi, em 1996, colaborador do Presidente da República Jorge Sampaio.

Exerceu o cargo de administrador da Fundação Oriente até aos 65 anos, passando a consultor até aos 75 anos, ano em que se aposentou, tendo sido diretor da revista “Oriente”, publicação da Fundação.

Sócio Correspondente da Academia Brasileira de Letras, chegou a ser indigitado para Adido Cultural de Portugal no Brasil, devido à sua forte ligação com aquele País, sendo igualmente Sócio da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Internacional da Cultura Portuguesa.

Em 2007, por ocasião dos seus 80 anos e por iniciativa conjunta dos seus editores e do Centro Nacional de Cultura, foi publicado o volume de homenagem “António Alçada Baptista – Tempo afectuoso” – Homenagem ao escritor e amigo de todos nós (com coordenação de Guilherme Oliveira Martins e Maria Helena Mira Mateus), onde quarenta e cinco  personalidades escreveram sobre a sua obras. Eis alguns desses testemunhos:

        […] o autor do “Anjo da Esperança” e do “Riso de Deus”, tão aparentemente desprendido, esteve no centro de uma autentica revolução cultural entre nós. Parece-me que ainda não mereceu toda a atenção até hoje. […], Eduardo Lourenço.

         […]Como contador de histórias, António Alçada dispõe daquele mesmo talento que distingue os grandes conversadores: encanta como um mago e seduz como um profeta. Não é uma coisa nem outra, e se há virtude maior que se deva exaltar no percurso intelectual e cívico deste homem singular, é precisamente o nunca ter querido ser nem mágico nem visionário, nem manipulador de consciências nem vendedor de ilusões. Numa época em que todos julgavam deter mais do que a sua pequena parte de verdade, não é coisa pouca. […], António Mega Ferreira.

        […]Absolutamente fabulosa, na convivência com o António Alçada, foi sempre a sua capacidade de nos contar histórias como parábolas risonhas para todas as pequenas minudências que viessem a debate, que suscitassem dúvidas, ou que, apenas, fossem apresentadas à colação de forma demasiado seca e árida para merecerem a memorização dos presentes.  Ele ouvia-nos com o seu sorriso simultaneamente sábio e astuto. Quem transporta a genialidade consigo, transpira-a tranquilamente, sem esforço, como quem sonha, de uma forma ou de outra. […], Clara Ferreira Alves.

        […]Alçada Baptista, como escritor, intelectual e interventor cívico tornou-se uma personalidade inconfundível das últimas décadas do século XX português e da transição do Milénio. Mas além disso, é um contador de histórias incomparável, uma figura humana excepcional e um amigo exemplar […], Mário Soares.

Considerado um contador de histórias e um romancista de excelência, foi considerado por amigos, escritores e outras personalidades um escritor de afetos ímpar. Admitindo ter “uma sensibilidade feminina”, Alçada Baptista enquadrava-se, segundo o próprio, entre os raros escritores que não tinham “vergonha dos afetos”: A minha obra escrita vende-se muito por uma razão simples, porque eu sou talvez o primeiro escritor que não teve vergonha dos afetos, disse um dia o escritor sobre a sua obra.

A 5 de Fevereiro de 2009 foi homenageado pela Sociedade Portuguesa de Autores, tendo-lhe sido atribuída, a título póstumo, a Medalha de Honra da referida Sociedade, sendo nesta altura criado o prémio António Alçada Baptista de Literatura Memorialista e Autobiográfica, a atribuir a partir de 2010.

Consulte aqui a bibliografia.

[…] Tenho dias. Tenho dias em que acredito que o comportamento dos homens, um por um, vai-se modificar mas tenho outros dias em que vejo que o homem está caminhando inevitavelmente para o seu fim e que tudo isto, se tiver alguma interpretação futura, poderíamos dizer que este bocado do universo a que chamam a Terra, foi habitada por homens, alguns dos quais viveram uma relação estrita com um homem que era Deus, mas, porque não tirou aos homens a liberdade, está a assistir agora à sua destruição. […]

                                                   in “O tempo” (crónica da revista Máxima)

[…] É no Outono que a gente é capaz de reparar que a vida não é banal não obstante o nosso quotidiano ter sido de uma banalidade atroz. Acredito que é possível descobrir pedaços de luz no meio de tudo isso. São coisas destas que me levam à convicção de que a vida para que fomos feitos não é, de modo nenhum, aquela que andamos a viver. Em rigor o nosso destino poderia parecer trágico: por um lado, caminhamos inexoravelmente para a solidão, por outro, temos como futuro o esquecimento. Tenho muito a convicção de que somos seres em formação, pois o projecto humano não aponta para aqui. Penso é que ele nos vai sendo revelado por pequenas nostalgias de coisas ainda não vividas, que se exprimem por intuições avulsas e, apesar de tudo, pelo halo poético do mundo, que seria mais visível se acertássemos a maneira como olhamos para ele. Depois também há, felizmente, aqueles que já nasceram mais à frente no caminho do futuro. […]

                                                                                                   in “O tecido do Outono”.

MJLeite

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