João Pedro Mésseder

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Nas suas palavras…

“Dizem que um escritor não tem biografia. Ou antes, que os únicos elementos da sua biografia com eventual interesse são as obras que escreveu.

Quando ouço estas ideias repetidas por muitos escritores, dá-me logo para desconfiar e contrariar. Que é que querem? Sou assim.

É por isso que aceito contar-lhes um pouco da minha vida, ainda por cima meio inventada, porque João Pedro Mésseder é nome literário, quer dizer, inventado (prefiro «nome literário» a «pseudónimo», vá-se lá saber porquê).

Nasci no Porto, a «invicta» cidade tantas vezes vencida – pela miséria, a desigualdade e a estupidez humana. Foi no ano da graça de 1957 – o que não teve graça nenhuma, porque onde eu estava bem era na barriga da mãe (quase que rima).

Lembro-me dos verões nas praias e piscina de Leça da Palmeira, com os meus primos e amigos. Foi lá que conheci a primeira namorada quando tinha oito ou nove anos. Chamava-se Solange, era doce como um anjo. Logo a seguir tive outra que se chamava Cristina. Nunca mais as vi.

Depois cresci e fiz amigos e tropelias no Liceu Alexandre Herculano, onde estudei e tive professores muito bons. Eram escritores, alguns deles: Agostinho Gomes, Luís Amaro de Oliveira, Lucinda Araújo, Maria Teresa Vale, Diogo Alcoforado.

Formei-me em Filologia Germânica (Inglês e Alemão) na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, mas não gostei, ou melhor, só gostei mais ou menos.

Antes de 1974, era um jovem estudante rebelde: lutava contra o fascismo do Salazar e do Marcelo Caetano, quer dizer, lutava contra a guerra nas colónias de África, contra a existência de presos políticos e contra a falta de liberdade e democracia no nosso país. Cruzando-me com muita, muita gente nas ruas, participei na Revolução do 25 de Abril e esses anos de 1974 e 75 foram os melhores da minha vida.

Ainda hoje preciso de fazer política. Ao lado dos mais pobres e injustiçados. Sempre. E quero dizer que estou de acordo com o Saint-Exupéry, quando ele afirma que os dois grandes inimigos da alma são o dinheiro e a vaidade.

Entretanto, continuei a envelhecer – que é o que todos nós fazemos, todos os dias. Casei com uma linda rapariga loira e tive dois filhos mais ou menos loiros: o Miguel e a Inês.

O que faço para ganhar «o pão-nosso de cada dia»? Dou aulas de literatura a futuros professores (os meus alunos são jovens adultos).

Mas, acima de tudo, gosto de ler, ouvir música, ir ao cinema, viajar. Os meus países favoritos são a Itália, a Grécia, Cuba, a França, a Espanha e o Alentejo (é verdade, é: embora seja uma região de Portugal, para mim o Alentejo é um país à parte).

Os meus melhores amigos são a Elisa e o Zé – porque, além da minha família, são as melhores pessoas que conheci em toda minha vida.

 Ah, ia-me esquecendo de dizer que já escrevi diversos livros, sobretudo de poesia. Para crianças, jovens e adultos. A minha editora principal é a Caminho, de Lisboa. Mas também tenho livros na Campo das Letras e na Ambar.

E por agora chega. Quando for mais velho, conto o resto (se ainda estiver vivo).

Queriam saber o clube da minha preferência, não era? Mas não lhes digo.

http://www.nonio.uminho.pt/netescrita/autores/jpm.html

 

Eis algumas obras que foram distinguidas:

Versos com Reversos (1999), nomeada para a Honour List 2000 do IBBY – International Board on Books for Young People;

Fissura (2000), Prémio Literário Maria Amália Vaz de Carvalho de Poesia;

Timor Lorosa’e: A Ilha do Sol Nascente (2001), incluída na seleção White Ravens 2003 da Biblioteca Internacional da Juventude de Munique.

Palavra que Voa (2005), nomeada para a Honour List 2006 do IBBY – International Board on Books for Young People;

Trocar as Voltas ao Tempo (2008); O Tempo Voa (2010), menção do Júri do Prémio Compostela para álbuns infantis.

Livros recomendados pelo Júri do Prémio Nacional de Ilustração (PNI):

Conto Estrelas em Ti – Dezassete Poetas Escrevem para a Infância, João Caetano, 2000;

O g É um Gato Enroscado, Gémeo Luís (texto de João Pedro Mésseder), 2003;

– Romance do 25 de Abril, Alex Gozblau (texto de João Pedro Mésseder), 2007;

O Meu Primeiro Miguel Torga, Inês de Oliveira (texto de João Pedro Mésseder), 2009;

– Guardador de Árvores, Horácio Tomé Marques (texto de João Pedro Mésseder), 2009.

A sua vasta obra tem sido determinante na aquisição competência leitora das crianças, sendo um autor que investe numa escrita «que as desafia, as interroga e as diverte sem nunca as reduzir à condição de leitores menores […]”, ocupando um lugar de destaque na seleção elaborada pelo Plano Nacional de Leitura.

É atualmente Professor Coordenador da Escola Superior de Educação do Porto e dirige a Revista “Malasartes – Cadernos de Literatura para a Infância e a Juventude”, da qual foi fundador. Coordena também a coleção Oficina dos Sonhos, da Porto Editora, e é membro da Associação Portuguesa de Críticos Literários.

 

Consulte aqui a bibliografia.

 

Uma nova palavra

 

Eu quero uma nova palavra

diferente das outras palavras

que cansei de repetir,

uma palavra de vento,

uma palavra que o tempo

seja incapaz de ferir.

.

Eu quero uma nova palavra,

mistura de sol e de frio,

de barcos descendo um rio,

cheia de céu e de mar.

Eu quero uma nova palavra

aberta de par em par

como o rosto de um menino

com paisagens no ouvido

e cantigas no olhar.

 

Trocar as voltas ao tempo

 

Quantas horas tem o dia?

-Vinte e quatro, sempre a abrir.

-Pois eu queria vinte e cinco

p’ra brincar até cair.

 

Quantos minutos a hora?

-Tem sessenta, sem enganar.

-Pois eu queria os sessenta

e mais um só p’ra sonhar.

 

E os segundos por minuto?

-Sessenta, sempre a passar.

-Pois eu cá queria setenta

para o tempo baralhar.

 

Leia aqui outros poemas do autor.

 

MJLeite

Um comentário para “João Pedro Mésseder”

  1. Leio estes artigos, sempre com muito gosto. Um excelente trabalho de divulgação e um grande enriquecimento do Chão de Areia!

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