Helena Marques

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[…] tudo o que recebemos tem de ser transmitido, dado, multiplicado nos outros […]

                 .           .                             in “A Deusa Sentada”

Nascida em Carcavelos, partiu ainda criança para a Madeira, de onde os seus pais eram originários, e aí frequentou o curso de Língua e Literatura Inglesa, iniciando, em 1957, a sua carreira de jornalista, atividade que viria a ser distinguida, em 1986, com o Prémio Jornalista do Ano da revista Mulheres. Ainda na Madeira foi professora do ensino secundário particular.

A viver em Lisboa, a partir de 1971, continuou a exercer a atividade de jornalista, trabalhando sucessivamente em A Capital, no Jornal do Comércio, na República e no Diário de Notícias, tendo sido neste último diretora adjunta entre 1986 e 1992. Fez parte da direção da Casa da Imprensa e do Sindicato dos Jornalistas. A necessidade de uma escrita mais criativa, “com mais liberdade“, tornava-se cada vez mais urgente e escolheu a sua terra como tema do livro que sairia no primeiro ano da sua reforma, surgindo assim, em 1993, o seu primeiro romance, “O Último Cais”, que recebeu várias distinções: Prémio Revista Ler/Círculo de Leitores, Grande Prémio do Romance e da Novela da Associação Portuguesa de Escritores e prémio Bordalo de Literatura da Casa da Imprensa.

“Achei que a Madeira precisava de ser contada da forma como eu a via”, justifica. “Não era só bailinho e os carros de bois, a Madeira mas também as mulheres tinha uma história, uma dignidade […].

A Madeira, mas também as mulheres, ocupam um lugar central, nas obras “A Deusa Sentada” (1994), “Terceiras Pessoas” (1998), “Os Íbis Vermelhos da Guiana” (2002), “Ilhas Contadas” (2007) e “O Bazar Alemão”, o seu mais recente livro, publicado em 2010, com a Madeira como cenário, uma história que parte das perseguições sofridas pela comunidade judaica na ilha da Madeira, no início da II Guerra Mundial, para falar  da forma como o amor e a força ética superam o mal, inspirando-se na vida de Elisabeth e Eugen Beckmann, uma judia e um alemão que viviam então na Madeira.

        “Conheci-os na minha juventude. Eram belos, afáveis e felizes, sem traço de amargura. Em 1999 a investigação realizada por Anne Martina Emonts resgatou ao esquecimento a história – quase desconhecida – das perseguições sofridas pela comunidade de judeus que residia na Madeira. Foi algo terrível, pérfido, que afectou várias pessoas, mas que atravessou silenciosamente a história. Quando conheci a investigação e percebi que os Beckmann tinham sido alvo dessas perseguições, senti que tinha o dever moral de escrever sobre isso, de contar a forma como as situações políticas e sociais afectam os indivíduos banais, mesmo num lugar remoto e paradisíaco como uma ilha no meio do Atlântico.”

Está agora a escrever um livro de memórias, “que ainda não tem nome […] também falará da Madeira, mas não tanto, porque já vivo há mais anos cá do que lá […]. Quem sabe se não abordará o episódio das vacas que usavam casacos de lã verde na ilha de Jersey para não perderem leite, um local para onde viajou para escrever, ainda como jornalista, sobre os madeirenses instalados nas ilhas do Canal, ou a dedicação à luta pelos direitos das mulheres, sempre sem feminismos “Somos iguais em direitos, não somos iguais em disponibilidade, porque temos outras obrigações”.

A sua obra encontra-se traduzida em alemão, italiano, castelhano, grego, romeno e búlgaro.

Foi condecorada em 2001, por Jorge Sampaio. Não pediu o galardão, mas agradece (“As condecorações não se pedem, não se rejeitam e nunca se usam.”).

 

MJL

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