Como Se Fez – 47: Óculos de Leitura

Algumas imagens apresentadas no Como Se Fez, são fracas em termos fotográficos, mas valem pelo Engenho, pela Criatividade e pela Loucura, como é o caso desta.
O ideal seria vê-la, sorrir e seguir para outra coisa, como a maior parte dos leitores fará. Porém, se lhe dermos um pouco de atenção, descobrimos muito.
Com uma Abertura grande, as máquinas fotográficas só mostram com nitidez o que estiver num plano paralelo ao do sensor ou da película. Claro que é possível reduzir a Abertura, diminuindo a Velocidade ou alterando a Sensibilidade, conforme já sabemos, aumentando assim a Profundidade de Campo para diante e para trás do ponto de focagem, mas não foi o que aconteceu.
Conforme as regras do Retrato, a imagem está focada para os olhos da gata (é assim mesmo, o nariz pode estar desfocado, mas os olhos –ou pelo menos o mais próximo, numa pose de três quartos– têm de estar).
Até aqui tudo certo, mas a gata é uma fotografia em cima da mesa, sobre a qual coloquei os óculos abertos, cujas lentes ficaram, naturalmente, perpendiculares ao plano da foto. Se o enquadramento fosse mesmo em cima da fotografia, para que a totalidade da mesma ficasse paralela ao plano do sensor, tudo ficaria igualmente nítido, mas não iria parecer que tem os óculos postos. A solução acabou por ser de compromisso, quase nada ficou paralelo ao plano do sensor, acabando por ser uma captura inclinada, mais próxima do lado de baixo. A iluminação era fraca e o flash iria projetar uma sombra dos óculos sobre a imagem da gata, mais intensa do que a que já era visível, estava, portanto, fora de questão.
Só ficaram focados os olhos e os pequenos troços das hastes que estão na área paralela ao sensor, abrangida pela focagem.
Para concluir a insanidade, fica aqui em baixo um retrato de Estaline feito por Pablo Picasso, também para ver de relance. Tem óculos em cima, mas como as hastes estavam fechadas, removi-as digitalmente.

Costumo dizer aos meus alunos que a fronteira entre a Criatividade e a Asneira é muito ténue, às vezes inexistente, mas convém estar minimamente consciente para não permanecer muito tempo no lado do disparate e a incursão nesse domínio deve corresponder sempre a alguma aprendizagem.
JML

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