De Zero a 3500 em Vinte Anos

Até 1995 só conhecíamos os planetas do Sistema Solar. Foram catalogados os satélites naturais, estudava-se a Nuvem de Oort (nome do astrónomo e astrofísico holandês –Jan Hendrik Oort– que mais contribuiu para o conhecimento da estrutura e rotação da Via Láctea), esta nuvem é uma ténue esfera com cerca de 2 Anos-Luz de diâmetro, constituída por partículas de gelo de água, de amónia e de metano, e ainda biliões de corpos menores, que envolve o Sistema Solar e é a fonte provável dos Cometas que orbitam o Sol; sabia-se da Cintura de Kuiper (também conhecida por Cintura de Edgeworth-Kuiper, uma vez que Gerrit Pieter Kuiper, astrónomo holandês e Kenneth Essex Edgeworth, astrónomo, engenheiro e economista irlandês, sugeriram ambos a existência, sem saberem um do outro, de um disco com corpos gelados para lá da órbita de Neptuno, disco esse que se estende desde 30 a 50 UA do Sol, onde se calcula que existam mais de 100 000 corpos celestes, dos quais já foram catalogados mais de 1000, [UA significa Unidade Astronómica e corresponde à distância média entre a Terra e o Sol, cerca de 150 milhões de quilómetros].
Tinham sido identificados inúmeros corpos celestes, como Estrelas, Cometas, Constelações, Nebulosas, Galáxias, Quasares, Pulsares, Buracos Negros [ver Como Se Fez 21 (1), para aprender a criar um Buraco Negro “para a fotografia”], mas… de planetas fora do Sistema Solar, só havia suspeitas.
Entre 1989 e 1992 foram surgindo candidatos a planetas, pois as anomalias detetadas no “balançar” de algumas estrelas não binárias, sugeriam a existência de qualquer corpo a causar a referida perturbação [ver link no final do artigo Como Se Fez 6 (2), para Sistema Binário].

Telescópio Hubble

A 6 de outubro de 1995 foi identificado o primeiro exoplaneta e desde então foram validados inúmeros outros, localizados na década de 80. Em 20 anos identificaram-se 3500 planetas e, em março de 2018 os cientistas já tinham localizado 3741, existindo ainda mais de 5000 a aguardar confirmação.
Este “Grande Salto” deve-se à tecnologia, não só aos telescópios e radiotelescópios terrestres, mas, sobretudo aos vários Observatórios que estão em órbita, entre os quais o Spitzer (de infravermelhos), nome atribuído em homenagem ao astrofísico norte-americano Lyman Spitzer, pelo seu trabalho no campo da dinâmica estelar; o Hubble (ótico e de Infravermelhos), batizado com o nome de Edwin Hubble, atleta, pugilista e astrónomo que expandiu as fronteiras do Universo, deixando este, então, de ser só a Via Láctea, demonstrando o desvio para o vermelho, cada vez mais acentuado para as Galáxias mais distantes –com o Hubble foi possível obter as melhores imagens de sempre do Universo, com uma qualidade nunca vista–; o Chandra (de Raios-X), com nome em homenagem ao astrofísico laureado com o Prêmio Nobel, o indo-americano Subrahmanyan Chandrasekhar, que capta corpos celestes não visíveis de Terra; o Fermi (de Raios Gama), que, como Enrico Fermi, cientista italo-americano, pioneiro nos estudos da física de alta energia, estuda as emissões de alta energia provenientes dos corpos celestes mais distantes; e, finalmente, o Kepler (ótico com um enorme fotómetro), homenageando Johannes Kepler, pioneiro astrónomo matemático, criador das leis com o seu nome, que regem as órbitas dos planetas, estabelecendo-as como elíticas, com o Sol a ocupar um dos focos…. [Ver no Chão de Areia o artigo “No Princípio era a Luz” (pág.3), onde está uma referência a Johannes Kepler, com o seu contributo no campo da ótica (3)]. O Kepler, na sua órbita atrás da Terra, para que esta não oculte as estrelas observadas, trabalhando em parceria com os seus congéneres terrestres e em órbita, apesar de estar, desde 2013, com avarias no sistema giroscópico, tem sido o grande responsável pela descoberta de Exoplanetas.

Observatório Kepler

Mas, infelizmente, vários destes Observatórios já estão ou vão, gradualmente, sendo desativados, devido à falta de combustível e aos custos de manutenção. Porém, nem tudo é mau, pois, entre abril e junho de 2018, a NASA tenciona lançar o TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite), que irá substituir o Kepler. Por outro lado, entre 2021 e 2024 irá sendo gradualmente ativado o GMT (Telescópio Gigante de Magalhães), localizado no Chile e que, segundo as expetativas, produzirá imagens dez vezes mais nítidas que as do Hubble, assim esperam as onze instituições internacionais que financiam este projeto. A ver vamos.
Quanto aos planetas, Demócrito, há 2400 anos, previu quase tudo, pois a realidade parece Ficção Científica. Para além dos rochosos, semelhantes à Terra, que orbitam a zona habitável, há alguns muito estranhos, desde os ocos ou com densidade da cortiça (flutuavam se tivéssemos um oceano suficientemente grande), até aos errantes, que vagueiam pelo cosmos, como a Lua na Série “Espaço 1999”, pois a mecânica celeste tem destas coisas. A lista continua, com planetas cuja temperatura permanente é de 1100 graus centígrados, outros feitos literalmente de diamante, alguns com gelo em chamas, por muito absurdo que possa parecer, ou onde chove vidro, ou cobertos totalmente por água, ou oblongos em vez de esféricos, por estarem a ser absorvidos pela estrela que orbitam. Até se descobriu um com uma caraterística mais interessante que Tatooine, de “Star Wars”, pois, em vez de orbitar duas estrelas (um sistema binário), orbita três…
Aguardemos, mais virão.
Quanto às distâncias a que estes planetas se encontram da Terra, elas são verdadeiramente astronómicas, o mais próximo é o Ross 128b, que está a 11 anos-luz. Só lá chegaremos quando a Humanidade conseguir contornar as incontornáveis Leis da Física.

Leituras recomendadas:
– História Completa do Universo – Edições G+J Portugal, 2015
– Hubble, 15 Anos de Descoberta (inclui DVD) – Edições ASA, 2005
– Hubble, As Melhores Imagens… : 1990-2015, GeoBook – Edições G+J Portugal, 2016
Ou, no mínimo, consultar regularmente o Portal de Astronomia da Wikipedia:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Portal:Astronomia
E para quem domine a língua inglesa, o “Space.com” vale ouro.
https://www.space.com/
Ou o Portal da NASA
https://www.nasa.gov/

(0) - As notas são hiperligações no próprio número. 
JML

Enviar