Défice na Educação

A propósito de uma notícia, a circular no FB, de uma situação que, de estúpida, quero acreditar que é falsa, a da proibição de afixação de pautas dos resultados de exames, ocorre-me trazer de novo e uma vez mais, aqui, esta grave situação, no propósito de a não deixar esquecer.

Há pouco mais de um ano, o Primeiro-Ministro, na cerimónia de entrega do Prémio Manuel António da Mota, no Palácio da Bolsa, no Porto, disse, preto no branco:
“De uma vez por todas, o país tem de compreender que o maior défice que temos não é o das finanças. O maior défice que temos é o défice que acumulámos de ignorância, de desconhecimento, de ausência de educação, de ausência de formação e de ausência de preparação”.

Dito, creio que, de improviso, o que me pareceu estar no pensamento de António Costa, governante que conheço pessoalmente, que estimo e admiro, veio ao encontro do que ando a dizer há muitos anos.
Encorajado por este promissor discurso, enviei-lhe e ao actual Ministro da Educação (mas não sei se lhes chegou às mãos) a reflexão que agora reformulo. Reflexão que também fiz chegar ao conhecimento do Secretário de Estado João Costa e que sei ter recebido.

Mas a verdade é que nada, mas nada, foi feito para inverter esta situação que nos envergonha.

Num país, como Portugal, onde a investigação científica e o ensino superior, em todas as áreas do conhecimento, está ao nível do que caracteriza os países mais avançados, é confrangedor assistir à generalizada iliteracia dos portugueses, incluindo muitos dos nossos quadros superiores, intelectuais de serviço e políticos de profissão que, embora conhecedores dos domínios em que se movimentam, são falhos de outras culturas, em particular da científica, que a escola deveria dar mas não deu e continua a não dar, como está implícito nas palavras do Primeiro-Ministro.

Restringindo esta minha reflexão ao ensino da Geologia a nível do Básico e do Secundário que conheço bem, sou levado a pensar, e não estou só nesta ideia, que grande parte da situação vinda agora, bem ao de cima nas ditas palavras, radica, desde há muito e em grande parte, na respetiva “máquina pedagógica” do Ministério da Educação. Nunca conheci nenhum destes elementos, mas é a eles e, também, necessariamente, a quem lhes foi dando posse, que se deve este estado de coisas que, oiço dizer, não é exclusivo da disciplina pela qual me venho batendo há décadas.
Os ministros e secretários de estado da tutela, uns com ideias, outros sem elas, têm-se sucedido ao sabor das legislaturas e das remodelações. Foram entrando, ignorando muitas das disposições dos que os antecederam, criando outras e desaparecendo de cena, dando lugar a novos outros, em repetição deste desgraçado ciclo. Mas a dita “máquina”, julgo saber, praticamente, não muda e é essa, quanto a mim uma das responsáveis pelo défice agora denunciado por António Costa.
Outra parte da responsabilidade desta triste e lamentável situação cabe aos sucessivos chefes de governo que, mais preocupados com outros sectores da administração, dividendos políticos e outras aberrações dos aparelhos partidários instalados, têm descurado este gravíssimo problema, dito agora nas palavras do Primeiro-Ministro: “défice que acumulámos de ignorância, de desconhecimento, de ausência de educação, de ausência de formação e de ausência de preparação”.

É, pois, com preocupação e tristeza que começo a acreditar que estas belas palavras não passam, afinal, disso mesmo.

É urgente olhar para a realidade do nosso ensino e é preciso vontade política para promover uma profunda avaliação e consequente reformulação (despida de constrangimentos partidários) desta máquina ministerial.

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A. M. Galopim de Carvalho

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