História que os Professores de Geologia devem conhecer (8)

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(Conclusão)

Nota final: Nestes meus textos, apresentados de forma simples, despretensiosa, mas com preocupação de rigor, dirijo-me, sobretudo e por dever de ofício, aos professores de geologia, porque não quero “meter a foice em seara alheia”. Mas bem podia fazê-lo. Que os leia quem quiser e tire deles o proveito que puder.

 

Tocada pelo iluminismo e pelo liberalismo, surgiu em Inglaterra e ganhou aí dimensão entre meados do século XVIII e as primeiras décadas do XIX, a que ficou conhecida por Revolução Industrial.
Acontecimento da maior importância na história da humanidade, a seguir à Revolução Francesa, nele radicam, entre muitíssimas vertentes a que, particularmente, nos interessa focar – a incrementação da investigação e do ensino da geologia. À partida, porque esta Revolução tem fundamento na mineração do carvão fóssil (hulha) e do minério de ferro e, no propósito de conhecer e poder explorar as respetivas jazidas, a geologia é chamada a intervir. Depois porque, como direi mais à frente, criou as condições sociais que levaram ao atual panorama do ensino e da investigação científica.
Rica em hulha e em minério de ferro, a Inglaterra desenvolveu processos de produção do aço, uma liga metálica formada essencialmente por ferro e carbono, com percentagens deste último variando entre 0,008 e 2,11% (o aço distingue-se do ferro fundido, que também é uma liga de ferro e carbono, mas com teor de carbono acima de 2,11%). Detentora destas potencialidades, substituiu a madeira (combustível tradicional) pelo carvão fóssil, fez uso crescente da energia a vapor, produziu máquinas para a indústria.
Em poucas décadas, esta Revolução alastrou à Europa Ocidental e aos Estados Unidos.
As convulsões sociais e políticas que levaram à queda do “Antigo Regime”, foram diminuindo a hegemonia comercial dominada pelo poder político absoluto, substituindo-a por um capitalismo industrial concentrado nas mãos do sector mais abastado da burguesia.
Ganhando força em Inglaterra e na Escócia, na Holanda e na Suécia, países onde a Reforma Protestante tinha conseguido destronar a influência retrógrada da Igreja Católica, a Revolução Industrial demorou a surgir nos países que se mantiveram fiéis ao catolicismo, como foi o caso de Itália, da França, de Espanha e de Portugal.
Esta Revolução introduziu um conjunto de mudanças nos meios de produção e, consequentemente, na vida económica e social. Ao trazer a fábrica em substituição parcial do artesanato, deu nascimento ao operariado, ao já referido capitalismo industrial, fez crescer as cidades e desenvolveu novas relações entre estados.
Em respeito pelos princípios iluministas, proporcionou o surgimento de uma cultura de massas, favorável à democratização do ensino, abrangendo camadas cada vez mais vastas da população e o maravilhoso progresso científico e tecnológico que marca os dias de hoje e que, infelizmente, não temos sabido aproveitar, por razões políticas, bem explicadas por quem sabe explicá-las.
O facto de a esmagadora maioria das personalidades lembradas nestes escritos serem homens, deve-se, unicamente, à condição de inferioridade, imposta no passado às mulheres (à semelhança do que estamos a assistir em sociedades do presente dominadas por fundamentalistas islâmicos), a quem o ensino é praticamente vedado. Com estas lamentáveis exceções, o século XX acabou com essa indignidade e, assim, são muitas as mulheres, hoje tantas ou mais do que os homens, que ocupam os bancos e as cátedras das universidades e participam na investigação científica e tecnológica.
A. M. Galopim de Carvalho

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