Clube do Património – Visitas ao Fluviário, Museu da RTP e Museu de Arte Antiga
Já era tempo de aqui darmos notícia sobre as duas primeiras visitas do Clube do Património realizadas este ano lectivo. Mas, o tempo flui, escapando-se por entre os nossos dedos e, agarrá-lo, é o cabo dos trabalhos. Hoje, porém, à falta de repórteres mais novos e mais enérgicos que assumam a missão – o que é lamentável – aqui estou eu, num registo pessoal, a dar-vos conta dessas nossas visitas. Confesso que, às vezes, é com algum sacrifício que dedico o meu tempo à marcação e preparação destas visitas, pois essas tarefas burocráticas, embora invisíveis, são uma grande maçada (enviar fax, enviar mails, tratar de credenciais, reservar autocarros, recolher inscrições, fazer divulgação, recolher informação sobre os locais a visitar, fazer guiões). Quem ao sábado parte feliz para um dia bem passado, não sabe o que já se trabalhou para que tudo corra bem. Confesso, também, que nem sempre me apetece levantar cedo ao sábado, ao fim de uma semana intensa de trabalho, e passar um dia inteiro longe da minha casa, da minha família. Contudo, assim que vejo as caras de satisfação dos participantes entrando no autocarro, prontos para mais um dia de novas experiências, todo o torpor se dissipa. E aí vamos nós cheios de entusiasmo.
Ora este ano lectivo inaugurámos as actividades do Clube, no dia 10 de Outubro, com uma visita ao fluviário de Mora. Dedicado à Fauna e a Flora Alentejana, é um verdadeiro museu vivo da história hidrográfica da região e está integrado no Parque Ecológico do Gameiro que é banhado pela Ribeira do Raia. Neste local, os visitantes podem tomar banho nas despoluídas águas da Ribeira (existe até uma praia fluvial muito bem arranjada), acampar, praticar desporto, ou tomar uma refeição na bela esplanada que ali existe.
Ao longo do fluviário, o visitante acompanha o percurso dos rios, desde a sua nascente, nos pontos mais altos das montanhas, passando pelas zonas que albergam as espécies nativas e as outras, introduzidas pelo Homem, até chegar à foz, no encontro do rio com o Oceano.
Apresenta vários tanques e aquários, uma zona dedicada a animais exóticos e outra área exclusiva de duas lontras: a Marisa e o Ronaldo, filhas da Amália e do Eusébio. No global, o fluviário alberga cerca de 500 exemplares de 70 espécies de peixes e invertebrados diferentes, motivo que nos leva a considerá-lo um “Oceanário” de água doce. De entre estes exemplares encontramos pimpões, achigãs, tainhas, chanchitos, enguias, trutas, carpas e, até, gambozinos!!! É verdade, para quem, como eu, não sabia, os gambozinos existem! E, dado o seu tamanho, devem ser mesmo muito difíceis de caçar! Na zona dedicada aos animais exóticos existem espécies oriundas da América do Sul (da Bacia Amazónica) e da região dos grandes lagos africanos. De entre elas encontramos: peixes-facas, pacus-negros, aruanãs-prateados, piranhas vermelhas (as quais, imagine-se, são vegetarianas), uma anaconda (ainda pequena) e rãs-seta (dos animais mais venenosos da amazónia). Ficámos a saber, por exemplo que, regra geral, os animais mais venenosos são aqueles que conjugam a cor preta com outra cor bem chamativa – amarelo, verde alface ou laranja. Mas, para além destes animais venenosos, ainda encontramos outros animais exóticos como os peixes-gato, peixes-azuis-cauda-de-lira, bichir-cinzentos, ciclídeos-de-thomas e ciclídeos-amarelos.
No exterior do edifício, no lago que o circunda parcialmente, existem patos e cisnes de várias espécies, como o cisne negro de olhos vermelhos, lindo, elegante, misterioso.
A nossa visita iniciou-se com a projecção de um documentário sobre o tema da preservação ambiental e da importância da água e prosseguiu – com comportamento exemplar de todos – acompanhada por uma técnica superior do Fluviário que foi satisfazendo a curiosidade dos mais interessados. Para além de muito educativo, foi um dia bem passado.
No dia 7 de Novembro, realizámos a nossa segunda visita: de manhã, o recém- inaugurado museu da RTP e, à tarde, o Museu Nacional de Arte Antiga. Quanto ao Museu da RTP, devo dizer que está fantástico, embora seja de reduzidas dimensões. Apresenta peças muito interessantes que traçam a história da rádio e da televisão em Portugal, desde o seu aparecimento, com destaque para uma série de equipamentos e de uma série de gravações áudio e vídeo de enorme valor histórico.
No final, fomos surpreendidos com uma pequena brincadeira: o nosso grupo entrou em estúdio para fazer as suas próprias gravações! De repente, apanhado de surpresa, um grupo tão extrovertido tornou-se tremendamente envergonhado… . Pois, pois, a televisão intimida. Depois, fomos almoçar na zona do Parque das Nações. E como este grupo era mesmo exemplar no seu comportamento, até teve autorização para ir ao Centro Comercial Vasco da Gama, a esse antro de fast-food começado por M…
Depois de alimentar o corpo, lá fomos nós alimentar o espírito no Museu de Arte Antiga. Confesso que é um dos meus museus favoritos, não só pelas peças que exibe mas, também, pelo edifício e pelo local. Não imaginam o prazer que é almoçar no jardim deste museu, naquela esplanada divinal, de frente para o rio! Um dia experimentem; garanto-vos que não vão querer entrar num Mac… nunca mais. No museu, fomos recebidos por uma técnica superior do Serviço educativo que nos levou a admirar algumas das suas peças mais emblemáticas: os biombos namban, peças do século XVI, de valor incalculável, que representam o modo muito peculiar como os japoneses nos viam a nós “bárbaros do sul” (feios, de narizes muito grandes, modos grosseiros e aspecto sujo…); a Custódia de Belém, uma peça maior da nossa ourivesaria do séc. XVI, feita com o primeiro ouro trazido de Quíloa e que se supõe ser da autoria de Gil Vicente; e os painéis de S. Vicente, atribuídos ao pintor Nuno Gonçalves, activo durante o reinado de D. Afonso V; datada do séc. XV, esta obra constitui um dos mais impressionantes e singulares retratos colectivos pintados, em toda a Europa, neste período. Depois, fizemos um jogo engraçado com base na pintura europeia exposta no primeiro piso (dos séc. XIV a XVIII): divididos em equipas, tínhamos que encontrar os livros escondidos nas representações pictóricas das tábuas, das telas e das tapeçarias. A equipa que encontrasse mais livros ganhava. Claro que o objectivo deste jogo não era propriamente conseguir o maior número de livros em menos tempo mas, antes, estabelecer comparações entre pinturas de diferentes estilos e épocas. Por isso, algumas equipas demoraram-se a admirar, a observar, a comparar temas, composições e técnicas. E, ao fazê-lo, foram descobrindo que a maioria da pintura destas épocas representa temas religiosos; que as figuras dos Santos e Apóstolos, são sempre representadas com os mesmos atributos (para que as pessoas as conseguissem identificar); que a pintura, a partir do século XVI, apresenta um efeito de perspectiva mais evidente, as figuras mais plasticidade e mais volume e, por isso, um efeito de tridimensionalidade mais consistente. Também descobriram que existem diferentes suportes e técnicas – madeira, tela, pintura a têmpera, a óleo – e que a cada época e país correspondia uma tendência, “uma escola” de pintura com características muito próprias.
Mas, acima de tudo, espero que se tenham sentido bem no espaço do museu e que o elejam como local de muitas e frequentes visitas. Para mim, que vou lá muitas vezes, é sempre um prazer revisitar as minhas peças favoritas. Uma delas é a fantástica pintura de Hieronymus Bosch (pintor holandês, activo entre os séculos XV e XVI), “As tentações de Santo Antão”, um tríptico a óleo sobre tábua, pintado em cores intensamente vibrantes, que narra esse episódio da vida do santo. E assim nos surge uma composição em que sobressai a ideia de caos – sugerida pela abundância de seres estranhos e medonhos que povoam, de forma desordenada, todo o espaço figurativo – em contraponto à ideia de bem e de virtude que o santo procura perseguir – sugerida pelo ambiente ordenado da gruta e do crucifixo e pelas manchas de luz introduzidas pelo pintor. É um quadro que nos revela ainda uma visão medieval do mundo – os medos, a luta entre o bem e o mal – mas, também, uma visão moderna e intemporal: a nossa angústia perante o mundo, a fragilidade e, ao mesmo tempo, a força que nos caracterizam como seres humanos. Mas já me alonguei muito. Convido-vos apenas a entrar no site do Museu e a ver imagens e informações das peças de que vos falei.
Por Ana Bernardo
Classificado em: Património, Projectos e Clubes
Pois… o espaço começa a faltar na 1ª Pág., local em que a notícia merececia continuar…
Havendo necessidade de encurtar o texto visível, desapareceu a imagem, mas coloquei outra, bem ilustrativa de como estes passeios são benéficos para o espírito e para o corpo: as duas meninas estão já a “reflectir” no que viram e aprenderam no Fluviário… 😉
Deonilde
Obrigada minha querida amiga,
As nossas visitas ficam mais pálidas sem a tua presença…No próximo não te será solicitada a comparência; será simplesmente….EXIGIDAAAAA!!!!!
Bjs
ana
Brigadunchos Senhor Director,
A presença assídua de “vocelência” é sempre um dos nossos maiores incentivos. Esperando concretizar brevemente o desejo já expresso por “vocelência” – Casa das Histórias – tb um bj pela gentileza dos comentários.
Ana
Caro Nuno,
Muito obrigada pelo incentivo. Quando quiseres vir connosco nestas nossas aventuras, é só apanhar o autocarro no sítio do costume: Banzão, frente ao BCP!
Bjs
ana subtiiiiillllllll
Este é um dos projectos que me faz continuar o caminho com paixão e dedicação. Um bjs e um abraço apertado. Nada se faz sem alguma loucura…Onde vamos a seguir?
Enredados nos atilhos da avaliação de desempenho, planos e provas de recuperação, PCT’s, planos de acompanhamento, faxes, contactos telefónicos, etc os professores perdem por vezes a paixão pelo ensino, por deixar uma marca nos alunos e por fazer algo de diferente!
É bom saber que alguns como tu ainda resistem e continuam a investir tempo, energia e trabalho em prol dos alunos!
Parabéns pelos belos textos, e interessantes visitas dinamizadas pelo Clube do Património!
Se o meu apreço valer de estímulo para continuares – aqui fica!
O Clube continua animado, alargando horizontes, proporcionando visitas enriquecedoras aos alunos e professores que (aos sábados… imaginem!) aceitam o desafio de ir por aí à descoberta do nosso Património.
Fiquei aqui roidinha de injeva (que coisa feia…) pela visita aos Museus da RTP e de Arte Antiga, em que não me foi possível participar.
Na próxima, lá estarei!
Deonilde Almeida