26 de Abril – Aniversário
Há um provérbio grego que diz «não se pode cortar o fogo com uma faca» e é no te sentirmos presente todos os dias que sabemos que a tua morte física não corta a amizade, não corta a presença da paixão que punhas na vida. A paixão grega, como no-la deixaram os deuses e que cintila nos poetas que amaste. Por isso, hoje, que é o dia dos teus anos, é com poemas que o celebramos.
Até sempre, Pat.
Alexandre O’Neil Herberto Hélder Sophia de Mello Breyner Andresen
Isabel Marques
Classificado em: Comemorações, Divulgação
Assim celebro hoje a alegria do trabalho que partilhámos, neste caso, com Camões:
Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se de uma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas
Se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela viu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio,
E dar descanso às almas condenadas.
E agora, o meu “presente poético” de aniversário:
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.
Sophia de Mello Breyner Andresen, No Tempo Dividido
Saudade
Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já…
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida…
Saudade é sentir que existe o que não existe mais…
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam…
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
Pablo Neruda
Assim festejamos o teu aniversário. Com melancolia celebramos a tua eterna presença, Patrícia.
A mesa
O jornal dobrado
sobre a mesa simples
a toalha limpa,
a louça branca
e fresca como o pão.
A laranja verde:
tua paisagem sempre,
teu ar livre, sol
de tuas praias; clara
e fresca como o pão.
A faca que aparou teu lápis gasto; teu primeiro livro cuja capa é branca
e fresca como o pão.
E o verso nascido
de tua manhã viva. de teu sonho extinto,
ainda leve, quente
e fresco como o pão.
João Cabral de Melo Neto, “Poesias Completas”
Amiga,
o tempo passa mas tu não, estás sempre no meu coração. Sinto tristeza de não ouvir a tua voz, de não te ver, de hoje não te dar um grande abraço e beijinhos de parabéns mas, acredita, estás sempre presente no meu coração e pensamento. Todos os dias vejo a tua fotografia e, na escola, olho para as orquídeas que estão na “nossa” mesa, a marcar a tua presença e digo sempre, em voz baixa, Patrícia. Sinto tantas saudades!!!! Muitos beijinhos minha querida amiga.
O poema que te dedico, Patrícia!
“Daffodils” (William Wordsworth)
I wandered lonely as a cloud
That floats on high o’er vales and hills,
When all at once I saw a crowd,
A host, of golden daffodils;
Beside the lake, beneath the trees,
Fluttering and dancing in the breeze.
Continuous as the stars that shine
And twinkle on the Milky Way,
They stretched in never-ending line
Along the margin of a bay:
Ten thousand saw I at a glance,
Tossing their heads in sprightly dance.
The waves beside them danced, but they
Out-did the sparkling waves in glee;
A poet could not be but gay,
In such a jocund company!
I gazed – and gazed – but little thought
What wealth the show to me had brought:
For oft, when on my couch I lie
In vacant or in pensive mood,
They flash upon that inward eye
Which is the bliss of solitude;
And then my heart with pleasure fills,
And dances with the daffodils.