História que os Professores de Geologia devem conhecer (6)
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RENASCENÇA
A par desta evolução, evidencia-se o ideal humanista e naturalista que conduz ao verdadeiro desabrochar das ciências. Fica para trás uma Idade Média, rotulada, nem sempre justamente, como uma era de obscurantismo e ignorância, referida por alguns como a Idade das Trevas. Numa época em que as elites culturais e científicas eram, em grande parte, membros do clero, sobressaem os que se assumiram como críticos da escolástica medieval, denunciando a tradicional influência da religião na cultura e no conhecimento científico.

O Renascimento teve por traves mestras grandes nomes da filosofia, da história e do humanismo, com destaque para os italianos Leonardo Bruni (1369-1444), Marsílio Ficino (1433-1499), Giovanni Pico della Mirandola (1463-1494), o germânico Nicolau Krebs (1401-1464), os holandeses Rudolph Agrícola (1444-1485) e Erasmo de Roterdão (1466-1535), o inglês Thomas More (1478-1535) e o poeta croata Janus Pannonius (1434-1472).
Foram ainda figuras importantes neste virar de página da intelectualidade europeia Leonardo da Vinci (1452-1519), italiano de nascimento, que se destacou como matemático, naturalista, anatomista, engenheiro, arquiteto, inventor, pintor, escultor, poeta e músico, grandes matemáticos como o alemão Johannes Regiomontanus (1436−1476), o italiano Luca Bartolomeo de Pacioli (1445-1517), o croata János Vitéz (148

Durante o Renascimento e em desacordo com as regras civilizacionais estabelecidas pela Igreja, ganhou corpo o humanismo, que colocou o Homem no centro do Universo, favorável a uma futura burguesia individualista e abastada: Com interesses em negócios internacionais e em busca de autoridade administrativa, os seguidores desta ideologia atentavam contra um privilégio até então exclusivamente nas mãos de uma parte importante do clero e da nobreza. Nesse tempo e num propósito de fazer renascer a antiga Paideia grega, como um corpo de princípios éticos, sociais, culturais e pedagógicos, visando o aperfeiçoamento do cidadão, surgiram novas universidades e bibliotecas em várias cidades da Europa e restaurou-se o latim clássico, que se tornou na nova língua franca no espaço europeu.
A queda do Reino de Granada, em 1492, e a reconquista da totalidade da Península Ibérica aos mouros potenciou a intelectualidade renascentista, na medida em que possibilitou o acesso dos estudiosos europeus a um vasto e valioso acervo de obras muçulmanas de Geber (721-815),

O desenvolvimento das ciências, na linha do empirismo experimental, permitiu avanços significativos na tecnologia. Um exemplo desta ligação foi o desenvolvimento das práticas da fundição e da cerâmica em Itália, na Boémia e na Áustria, levadas a efeito pelo italiano Vannoccio Biringuccio (1480-1539), um estudioso de mineração e metalurgia, que ascendeu a chefe da fundição papal, em Roma. Considerado como o pai da indústria de fundição, legou-nos “De la Pirotechnia”, um primeiro relato escrito sobre estas práticas, publicado em Veneza, em 1540.
Não obstante os progressos que se iam conquistando no domínio do conhecimento científico, os dissidentes mais ousados e expostos eram considerados hereges e, como tal, perseguidos pela Inquisição. O geocentrismo, que impunha o universo centrado na Terra, os seis dias da Criação e o Dilúvio bíblico eram algumas das verdades inquestionáveis pelos seguidores da Fé. Por se recusar a admitir que a Terra se encontrava no centro do mundo, pela ousadia de afirmar que existiam muitos outros sóis e infinitas terras a girarem à volta deles e por outras heresias, o filósofo italiano e dominicano, Giordano Bruno, foi condenado à fogueira, em 1600, “para purificação da sua alma”, em Roma, às ordens do Tribunal do Santo Ofício.
É no final do Renascimento que surge o termo geologia com o significado que hoje lhe damos. Tal acontece com a edição, em 1648, do livro do naturalista bolonhês, Ulisse Aldrovandi (1522-1605),

Fundador do Museu de História Natural de Bolonha (inicialmente, um gabinete de curiosidades, com cerca de 7000 exemplares) e do Orto Botânico da Universidade, mais tarde o Jardim Botânico da mesma cidade e um dos primeiros da Europa, Aldrovandi foi considerado por muitos como o “Pai das Ciências Naturais”. Seguidor assumido da Reforma Protestante e das ideias anabaptistas, foi acusado de heresia, preso pelo Santo Ofício, mas teve mais sorte do que Giordano Bruno. Foi transferido para Roma, o que lhe permitiu travar conhecimento com diversos naturalistas e desenvolver, entre outros, o seu interesse pela geologia, de que reuniu vasta coleção hoje conservada no museu que fundou.
(Continua)
A. M. Galopim de Carvalho
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Mais artigo de excelência. Simples, claro, objetivo. Obrigado, professor.