Tapada de Mafra – um passeio à chuva

Visita de estudo das turmas B e D do 6º ano, da EBI de Colares

Introdução

No passado dia 7 de junho, a previsão meteorológica para a região de Mafra era de chuva e trovoada. Mas nem o cansaço do final do ano letivo, nem os caprichos do S. Pedro, demoveram as turmas B e D do 6º ano e os professores acompanhantes Olinda Jarra, Inês Ferreira, Carla Jesus Pereira, Catarina Ramos e Fernanda Lobo, de visitar a Tapada de Mafra e passar uma tarde em salutar contacto com a natureza. Visita molhada, visita abençoada! E foi mesmo!

Um pouco de História

Criada em 1747, no reinado de D. João V, como parque de caça e lazer para o Rei e a sua corte, a antiga Tapada Real de Mafra é uma significativa mancha florestal, com cerca de 1200 hectares, rodeada por um muro com 21 Km de extensão. Com a implantação da República e o exílio da Família Real, passou a denominar-se Tapada Nacional de Mafra. Preserva uma fauna e flora biodiversas, sendo, presentemente, gerida para fins de educação ambiental e de ecoturismo.

Nela podem observar-se construções muito interessantes, que testemunham as suas antigas funções, quer como reservatório natural de água potável para o Palácio – Convento de Mafra, com o seu complexo sistema de minas, poços, tanques e aquedutos subterrâneos, quer como coutada para as caçadas reais ao veado, gamo e javali, como atestam os “azerves”, peculiares proteções semi-circulares, localizadas na região do vale, atrás das quais os caçadores se escondiam, à espera das suas presas, ou ainda o Pavilhão de Caça do Rei D. Carlos I, situado na zona do Celebredo, que após a queda da Monarquia passou a ser utilizado para acolher chefes de estado em visita ao nosso país e, atualmente, funciona como hotel.

Hoje em dia, a caça continua a fazer-se, mas somente para controlar as espécies que não têm predadores naturais. A saúde das populações animais é ainda assegurada por veterinários especializados.

Um passeio pelo vale

A preocupação ambiental e as boas práticas sustentáveis são temas que estão sempre em destaque na Tapada e, por isso, foi em viaturas elétricas que os alunos efetuaram um passeio guiado ao longo da ribeira do Safarujo, que vai desaguar à praia de S. Julião, próximo da Ericeira.

No seu percurso, os nossos jovens naturalistas observaram machos de veado e de gamo, com as suas hastes aveludadas e bem distintas, que crescem entre abril e setembro, caindo no outono; viram corças com crias nascidas na primavera, pastando tranquilamente, e mães javali rodeadas pela sua numerosa e irrequieta prole. Foi uma ótima oportunidade para recordarem, ainda, a importância das manchas da pelagem de certos animais para a sua camuflagem e para ficar a saber que já foram identificadas 14 espécies de morcegos arborícolas e cavernícolas na Tapada.

Breve aula de apicultura e ecologia

A Tapada Nacional de Mafra tem cerca de uma centena de colmeias e quatro apiários. Apicultor apaixonado, Luís Estrela cativou os nossos alunos com as suas explicações fascinantes acerca da anatomia, da complexa vida social e do papel ecológico fundamental que as abelhas desempenham, como insetos polinizadores. Segundo disse, certo dia, o físico e Prémio Nobel Albert Einstein, se as abelhas desaparecerem, a Humanidade só durará 4 anos, tal é a sua importância para a polinização das plantas com flor que o Homem cultiva para a sua alimentação e outras finalidades.

Ao som da trovoada, que entretanto se abateu sobre a Tapada, as turmas puderam observar diversos utensílios tradicionalmente empregues na apicultura, um cortiço antigo e, até, alguns exemplares conservados da vespa asiática, uma espécie invasora, predadora de abelhas, que atualmente constitui uma das principais causas do seu preocupante declínio.

Incansável, Luís Estrela respondeu com paciência e entusiasmo às perguntas que “choviam” de todos os lados, enquanto mostrava favos de mel e cera de abelha. Como curiosidades, ficámos a saber que são necessários 3 a 4 litros de néctar para se obter 1 kg de mel, que um enxame pode ter 40 a 50 mil abelhas, ou que uma rainha pode viver até 5 anos, mas as obreiras vivem apenas 40 a 60 dias. A rainha acasala com um zangão, põe milhares de ovos durante a sua vida e controla a atividade das obreiras através de mensagens químicas. Para indicarem umas às outras a localização de flores com néctar, as abelhas realizam uma espécie de dança aérea.

Têm 5 olhos e conseguem ver a luz ultravioleta, imaginem!

As rapinas da Tapada

Ao som da chuva e enquanto “atacavam” as merendas trazidas de casa, os alunos concluíram a sua visita à Tapada de Mafra com uma apresentação de aves de rapina.

Existem 3 grupos de rapinas noturnas, as corujas, os bufos e os mochos, que se distinguem entre si por características morfológicas. Ao contrário do que se pensa, têm boa visão, mas a sua audição apurada e vôo silencioso permitem-lhes caçar à noite. Alimentam-se, sobretudo, de roedores.

Já o falcão peregrino é uma rapina diurna, muito nervosa: o falcoeiro cobre-lhe a vista com o “caparão”, para o acalmar. Foi domesticado pelos Árabes e, durante a Idade Média, só o rei e os nobres podiam utilizá-lo para caçar. É a ave mais veloz, descendo em vôo picado sobre as presas à estonteante velocidade de 380 Km/hora! Outras rapinas diurnas são as águias e os abutres.

As aves de rapina são predadores de topo nas cadeias tróficas. Geralmente têm hábitos solitários fora da época da reprodução e caçam-se entre si. No presente, muitas espécies ibéricas estão criticamente ameaçadas, tanto pelo declínio das suas presas naturais, como pelo uso intensivo de pesticidas na agricultura.

E foi assim, com a observação direta das proezas de vôo e das características distintivas de algumas aves de rapina, que os nossos “biólogos por uma tarde” concluíram a sua visita à Tapada de Mafra. Oxalá esta saída de campo tenha reforçado neles o desejo de proteger e divulgar um património natural que é de todos!

Carla Pereira,
Docente Grupo 200 - HGP

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