Conheces o Património Natural de Sintra?
Parque do Palácio da Pena
Este parque é um dos mais famosos de Portugal. Tem cerca de 200 hectares e um relevo muito irregular, cheio de altos e baixos. A zona mais baixa é a dos lagos artificiais e a mais alta fica a 529 m de altitude, na Cruz Alta. O sítio continua a chamar-se Cruz Alta mas, na realidade, a cruz já desapareceu há mais de 10 anos, fulminada por um raio. É que neste parque tão verde e frondoso escondem-se grandes pedras ou penhas, como antigamente se dizia. E essas penhas estão carregadas de minério de ferro que atraiem os raios em dias de grande tempestade.
Eram apenas as penhas que se viam nesse alto da serra antes de o rei D. Fernando II ter decidido aí construir o Palácio da Pena e ter mandado plantar este grande parque. É claro que quem lá passeia imagina que este parque é uma coisa natural, com vegetação expontânea, porque tem um ar muito selvagem. Mas a verdade é que ele foi plantado de acordo com um plano muito rigoroso definido pelo rei, com a ajuda de um engenheiro silvicultor alemão chamado Wenceslau Cifka. E o seu aspecto selvagem deve-se ao facto de o rei muito apreciar este tipo de jardim falsamente desordenado – muito na moda na altura em que se construiu o Palácio (1839-68) – e que se designa como jardim romântico.
O parque foi mandado povoar com imensas espécies vegetais exóticas que vieram de vários continentes e que aqui continuam a crescer. Algumas delas já estão extintas nos seus locais de origem e outras são hoje muito raras. Uma das mais raras é o feto arbóreo que é uma espécie de feto gigante que existía já no tempo dos dinossáurios. Existe também uma árvore muito curiosa cujos troncos parecem patas de elefante; quando tocam no chão, enraízam, e dão origem a novas árvores. Chamam-se Tuias. Outra das curiosidades vegetais que aqui encontramos é um gigantesco eucalipto (o maior de Portugal, tal como se supõe) que foi plantado pelo próprio rei D. Fernando e pela condessa de Edla no dia do seu casamento. Não, esta senhora não era a rainha, mas a segunda mulher do rei. A rainha D. Maria II já tinha morrido em 1853 e o rei casou, mais tarde, pela segunda vez. Foi ela que herdou o Palácio da Pena,após a morte do Rei e o entregou, posteriormente, ao Estado Português.
Mas este parque não tem só penhas, plantas e flores! Tem sitios inacessíveis aos vulgares passeantes: os penedos gordos, por exemplo, são um local muito íngreme e rochoso, só mesmo para quem gosta de escalar! Antigamente, no tempo do rei, chegaram a ser habitados por cabras montesas e veados. Infelizmente, nem os veados se conseguiram equilibrar num sítio tão íngreme e traiçoeiro. Mas existem outros locais onde se pode passear tranquilamente e onde são visíveis algumas construções muito curiosas.
Essas construções serviam para embelezar o parque e para repouso dos passeantes: lagos para andar de barco, fontes para se refrescarem, pontes e bancos de jardim, miradouros em pontos altos e estátuas. As contruções mais famosas que podemos encontrar neste parque são: a estátua do guerreiro que fica no alto de um penhasco mesmo de frente para o Palácio e que ali foi mandada colocar pelo próprio rei (diz-se que servia, simbolicamente, de guardião do palácio); a mesa octogonal que é uma mesa de merendas que faz lembrar a famosa Távola Redonda, a mesa em volta da qual se reuniam os célebres cavaleiros do Rei Artur que viveram no reino lendário de Camelot; o templo das colunas que é uma construção circular rodeada de colunas e coberto com uma cúpula que servia de atelier de pintura ao rei D. Fernando II; a fonte dos passarinhos, em estilo árabe, que era um estilo de decoração de que o rei gostava muito e que servia como “casa de fresco”; o chalé da condessa que imitava as casas típicas da montanha alemã, terra do Rei e que serviu de alojamento privado à Condessa; e, finalmente, o conjunto de três lagos ligados entre si e que têm no meio pequenas ilhas com castelinhos. Para além destas construções, são visíveis também umas pequenas estruturas mais antigas, usadas pelos monges que aqui habitaram, até 1834, o pequeno convento de Nossa Senhora da Pena: pequenas capelinhas improvisadas aproveitando pequenas grutas que os monges usavam para retiro e oração – uma delas ficou mesmo conhecida por gruta do monge. Mas o Rei também mandou fazer no Parque algumas grutas que parecem verdadeiras e que foram escavadas propositadamente. Por tudo isto, este parque da Pena é considerado um sítio muito romântico e mágico. Na verdade, o rei D. Fernando II era um homem que gostava da História antiga deste local, de lendas e de coisas misteriosas. Este rei era um príncipe alemão muito culto, um romântico com gostos muito avançados para a sociedade portuguesa daquele tempo. Chegou a Portugal em 1836 para casar com a rainha portuguesa D. Maria II. Encantou-se com a Serra de Sintra e aí decidiu fazer o seu Palácio de Verão. E é este Palácio que serve de remate a este belo parque.
Sobre este parque há coisas muito curiosas que a maioria das pessoas não sabe. Por exemplo: os seus caminhos têm um traçado elíptico entrecruzando-se sucessivamente. Este traçado foi feito de propósito para fazer com que estes caminhos servissem também para meditar e as pessoas tivessem oportunidade de caminhar longamente num ambiente de contacto com a natureza. Outra coisa curiosa: todas as fontes e lagos deste parque foram cobertos de asfalto. Hoje em dia o asfalto serve apenas para cobrir estradas mas, naquele tempo, tinha sido uma descoberta recente e, por isso, estava na moda ser utilizado para revestir vários tipos de construção, incluindo as próprias casas. Essas fontes e lagos são abastecidos por dezenas de minas de água, bem como todas as outras represas que existem escondidas na vegetação. Aqui funciona um sistema hidráulico ainda hoje muito eficaz accionado pela força da gravidade: as minas captam a água na zona mais alta do parque e a água desce, já canalizada, para os locais a que se destina.
Hoje em dia este parque precisa de muita conservação porque esteve ao abandono durante muitos anos. Devido a esse abandono muitas coisas graves aconteceram: o chalé da condessa ardeu; os muros do Parque estavam derrubados em certos sítios e muita gente estranha ali se reunia, até para fazer rituais de magia negra durante a noite! Não existiam indicações que pudessem ajudar o visitante no seu percurso no parque e, por isso, muitos se perdiam; havia até zonas do parque totalmente inacessíveis, por falta de conservação. Desde há uns anos para cá, o Parque está a recuperar o seu antigo esplendor e é, seguramente, um dos mais bonitos locais que podes visitar em Sintra. Quando lá fores, sugerimos o seguinte: primeiro, uma bela caminhada no Parque – mas leva um mapa! – e, depois, sempre subindo, uma visita ao Palácio. No final do dia, vais sentir-te cansado mas imensamente feliz. Se gostares de pintar, ou de fotografar, então não podes deixar de ir ao “Banco da Rainha” um local alto e muito escondido de onde se capta a mais bela perspectiva do Palácio. Era aí que a Rainha D. Amélia gostava de se sentar a pintar, em longas tardes de sol. Uma das aguarelas que capta essa perspectiva está exposta no Salão Nobre do Palácio.
Legenda das fotografias:
1 – vista do Palácio a partir do Portão principal – litografia de cerca de 1860
2 – Tuias
3 – Fetos Arbóreos
4 – Estátua do Guerreiro
5 – Vista do Chalet da Condessa e Palácio da Pena – litografia de cerca de 1860. Comparando as imagens 1 e 5 com a actualidade, verás que a vegetação hoje cobre totalmente estas vistas.
Por Ana Bernardo
Classificado em: Biblioteca Escolar, Património, Projectos e Clubes
Óptimo texto sobre um local fantástico, cheio de referências botânicas e geológicas que fazem as delicias de um professor de Ciências Naturais.
Só uma curiosidade sobre D. Fernando II… por duas vezes foi-lhe oferecido o trono de um reino, de dois reinos diferentes, Espanha e Grécia… das duas vezes rejeitou e ficou no seu palácio em Sintra. Basta subir até lá para se entender porquê! 😉
Gostaria de acrescentar a este belo artigo que o “banco da rainha” é referenciado no mapa como sendo o “Alto de Sta Catarina” e tem de facto uma vista esplêndida. Para quem não sabe, o Parque pode ser visitado aos domingos de manhã, gratuitamente pelos munícipes de Sintra, assim como o Palácio, Monserrate , Capuchos e Castelo dos Mouros.
É um parque mesmo, mesmo lindo! 🙂 Adorei ler esta notícia porque fiquei a conhecer mais sobre este belo parque 🙂