Vale a pena… reler

O velhinho “Chão de Areia”, em versão impressa, publicou no seu Nº 2, em Março de 2004 :

Chão de AreiaCHÃO  DE AREIA – um título feliz

O título do nosso jornal é, de facto, um título feliz e bem imaginado que nos remete para a região em que vivemos, nomeadamente para o cultivo da vinha da casta Ramisco – uma mais valia que é bom não esquecer numa época em que se deveria, cada vez mais, valorizar as riquezas específicas de cada zona.

Chão de Areia, por oposição a Chão Rijo, é o terreno arenoso, geologicamente constituído por areias terciárias que assentam sobre uma camada argilosa do Cretáceo – período geológico que corresponde, aproximadamente, há 136 a 65 milhões de anos. No falar saloio, Chão de Areia é o solo de areia, e foi precisamente neste tipo de terrenos, descendo à camada argilosa, que a casta Ramisco encontrou as condições ideais para se desenvolver e produzir as uvas que, pela sua especificidade, dão origem ao famoso « Vinho Ramisco », hoje cada vez mais raro.

A Geologia diz-nos que a grande área de terrenos onde outrora se cultivava o vinho de Colares foi, naquelas épocas remotas – muito anteriores à existência do Homem – pertença do mar. São terrenos preponderantemente arenosos. Mais tarde, já em pleno período histórico, um braço de mar que entrava pela Enseada das Maçãs e chegava ao actual Banzão, continuou a proporcionar, ainda que doutro modo, uma paisagem arenosa e de características marinhas em seu redor. Muitos topónimos que ainda agora se conservam, são reminiscências desta última realidade, como, por exemplo, Porto – ou seja, passagem – Pedra Firme e Ilha.

As melhores áreas onde, no século passado, se cultivava este vinho, localizavam-se na margem direita do rio de Colares, nas denominadas “marinhas” – hoje quase todas elas plantadas com pinhais – que confinam com as povoações do Mucifal, Janas e Azenhas do Mar, seguindo-se, em qualidade, a vinha plantada na margem esquerda. As uvas que recebiam mais calor do Sol produziam um vinho de maior qualidade.

O Bacelo era plantado na terra argilosa, depois de afastadas as areias que a cobriam, formando uma espécie de largo funil. A tarefa – toda ela manual – era extraordinariamente difícil e exigia pessoal hábil e experimentado.

Chão de Areia, pois, um terreno aparentemente estéril mas que, graças à argila subjacente e ao trabalho do Homem, proporcionou a principal riqueza da região. Tal como o papel em branco que, por si só, de nada vale mas que, como necessário suporte da escrita, passa então a transmitir e perpetuar a riqueza dos pensamentos, das ideias e dos saberes.

Por Luisa Batista ( Clube do Património )

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