Apeteceu-me escrever(-te)
Preciso de tempo, Patrícia.
No sofrimento preciso de tempo para aconchegar a dor,
Procuro o silêncio e a simplicidade das coisas
Acamo as lembranças dentro de mim
Todas elas guardarei,
ninguém as rouba mais de mim.
No poema de Carlos Drummond de Andrade está lá quase tudo.
AUSÊNCIA
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
Por Nuno Cabanas
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Olá!
Gostei de ler estes comentários que me chegaram pelo António (da Patrícia).
A Patrícia era mesmo muito querida por todos os que com ela conviveram!
O que não me surpreende – sempre imaginei que assim era, sobretudo por parte dos alunos, de quem ela falava com ternura (mesmo quando nos contava as suas diabruras…).
E sempre senti que adorava ensinar Português (o que muito me orgulha como falante dessa bela língua)!
Como sempre quando parte alguém de quem gosto, costumo pensar que se transformou em estrelinha e lá está, bem alto, a acompanhar as vidas de quem a acompanhou por cá.
Assim minimizo a saudade da ausência física…Ou, pelo menos, tento.
Aproveito para vos dar os parabéns pelo vosso jornal – muito organizado e esteticamente agradável de se ler .
Abraços,
Paula
Obrigado, Nuno.A Patrícia certamente apreciaria o reconhecimento pelo empenho e esforço que sempre demonstrou pela causa do Ensino mas sobretudo pela estima e ternura que manifestam.Compreendo agora melhor porque nunca quis afastar-se desta Escola.A nós resta-nos guardar o seu exemplo e a sua perseverança e tentar acomodar a dôr da perda.Aos (seus) alunos preservar o privilégio que tiveram.
Também não conhecia akle poema do Carlos Drummond de Andrade…mas neste momento identifico-me mais com este da Sophia…só ontem liguei o computador…e hoje tive de vos escrever…muita gente ouviu falar de mim…tive uma ligação de amiga…de melhor amiga com a Patrícia…uma ligação difícil de explicar mas única…uma ligação inexplicável que me deixou numa tristeza profunda. Só vos keria dizer que essa escola tem muitas pessoas cheias de uma sensibilidade que eu não sabia existir nas escolas.Como amiga que fui, sou e serei dela…até que nos juntemos um dia…agradeço-vos todas as homenagens sentidas que lhes foram feitas.Havia um motivo para ela não ter saído daí…há escolas e escolas.
Não conhecia este poema de C. D. A., Nuno. É lindo! A propósito, aqui fica um outro poema intitulado “Ausência”, mas de Sophia de M. Breyner. Lembro-me de que o comentámos, a Patrícia e eu, na sala de professores. Há várias ausências dolorosas; a deste poema é um grito de dor:
AUSÊNCIA
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Esta imagem da Orquídea não podia estar aqui mais perfeita pois é uma planta que apesar de ter uma aparência frágil, tem uma grande resistência e força tal como a nossa professora Patrícia que apesar de fragilizada pela sua doença nunca o demonstrou e sempre luto para poder aproveitar a vida ao máximo e com uma grande alegria. Até sempre professora
Palavras belíssimas,de profundo sentimento,que demonstram e reflectem a grande saudade pela profª Patrícia de todos os seus colegas e amigos.Já era para o ter feito, mas faço agora em homenagem a profª Patrícia, e também como palavra de esperança a todos os seus familiares, colegas de trabalho e amigos,uma reflexão de Mário Salgueiro:
” NÃO MORREU ! … ”
LEVANTA O OLHAR PARA LÁ DAS NUVENS
DA TRISTEZA E DA SAUDADE E SOLIDÃO…
VERÁS QUE AQUELE QUE AMAS CONTINUA TEU,
PORQUE ESTÁ VIVO!…
ADORMECEU…
RASGA O NEVOEIRO DENSO DA AMARGURA
COM FARÓIS DA FÉ E DA ESPERANÇA
VERÁS QUE AQUELE QUE AMAS CONTINUA TEU,
PORQUE ESTÁ VIVO!…
ADORMECEU…
E QUANDO TRANSPUSERES A CURVA DA MORTE
NA CAMINHADA VELOZ PARA OS CÉUS
REENCONTRARÁS AQUELE QUE PARTIU E AMAS
ETERNAMENTE VIVO,
NA VIDA DE DEUS…
A.FONSECA
Está lindo Nuno. Partilho o mesmo sentimento.