Acordar para um Acordo (Ortográfico) !?
O Novo Acordo Ortográfico, mais um no espectro das reformas ortográficas, que pretende uniformizar a ortografia dos oito países de língua portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) tem causado controvérsia na sociedade civil, tanto brasileira como portuguesa. As resistências fazem-se ainda sentir efectivamente mais em Portugal, sobretudo porque o tratado altera cerca de 1,6% do seu vocabulário e apenas 0,45% do brasileiro.
Contudo, imbróglios linguísticos à parte, o certo é que a nossa língua é o instrumento crucial da comunicação do povo português e um elemento do nosso património nacional, que nos identifica como Nação. Assim sendo, por um lado, implementar uma nova reforma ortográfica não deixa de constituir um acto de soberania, o qual não pode ser imposto a qualquer país; por outro lado, estas querelas ortográficas da língua portuguesa que se arrastam há um século entre respeitados linguistas portugueses e brasileiros, que apregoam a importância do Acordo para afirmar o Português no mundo, aproximar os povos e reforçar a união entre os oito países lusófonos, vieram beliscar a auto-estima dos Portugueses.
Parafraseando um escritor crítico francês, Anatole France, “o povo faz bem as línguas. Fá-las imaginosas e claras, vivas e expressivas. Se fossem os sábios a fazê-las, elas seriam baças e pesadas.” Na verdade, o orgulho patriótico de vivermos no berço da língua portuguesa submete-se à nossa consciência, e às evidências do mundo actual, de que o sucesso da difusão de uma língua depende afinal, não da grafia, mas do prestígio e do poder político, económico e cultural dos países que a falam, isto é, subentenda-se, que a impõem… por essa enorme variedade de culturas, pronúncias e grafias, que é a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Por tudo isto, o workshop “Em Português nos entendemos” foi o mote lançado corajosamente pela nossa colega Luísa Figueiredo no passado dia 14 de Junho, no sentido de, acima de tudo, resumir as grandes alterações na nossa grafia e de pretender clarificar as incongruências deste Acordo. Para nós, professores e educadores, teve toda a pertinência este workshop, numa altura em que se verifica uma necessidade cada vez mais premente de eficazes esclarecimentos relativos a estas mudanças de ortografia, claramente discutíveis. O resultado imediato da sessão foi também que “Em Português também nos desentendemos”, ao avaliarmos as inúmeras questões, dúvidas e discordâncias impostas pelos participantes. Foi, de facto, um trabalho sério e consistente, o da nossa colega Luísa!
O novo ano lectivo avizinha-se e teremos todos (?) de acordar para um Acordo, seja ele pertinente e relevante… ou não.
Por Vanessa Gomes (professora de LP)
Classificado em: Biblioteca Escolar, Divulgação, Línguas e Literatura
Mais um exemplo da formação interna desenvolvida com a “prata da casa” e que muito nos orgulha. um beijo grande à Luísa pela coragem e disponibilidade. Queremos mais, claro!