Como Se Fez – 9: Bota de Elásticos

Se a película fotográfica (ou o sensor) não for impressionada, isto é, se não receber luz nenhuma, cria uma imagem totalmente negra. Seria assim se a imprimíssemos.

Inversamente, a película (ou o sensor) que receba, em toda a sua superfície, o máximo de luz que ultrapasse a sua sensibilidade fica “queimada” ou branca, por ter captado luz a mais, portanto, se fosse impressa ficaria tudo branco.

Entre estes dois extremos é possível ir sobrepondo imagens partindo do escuro para o claro e se elas forem sendo gradualmente mais claras, podemos ir percebendo vestígios de todas essas sobreposições. Refiro-me a duplas ou triplas exposições no mesmo fotograma, não às sobreposições feitas digitalmente nas quais as imagens podem ser recortadas. Isto é a teoria.

Na máquina que usei para esta imagem, é possível, recorrendo a um pequeno truque, armar o obturador sem que a película avance. Fotografei a bota sobre uma cartolina branca que iluminei com dois “flashes” a disparar em simultâneo. A bota ficou em contraluz, mas havia um refletor atrás de mim que deveria atenuar hipotéticas sombras. A seguir fiz uma macro da caixa dos elásticos, que, em princípio, só iriam aparecer na zona da bota. Sim, em princípio. Mas… quando vi o resultado, percebi que “os factos às vezes não obedecem às teorias” (sobretudo se não respeitarmos todos os pormenores da teoria) e acabei por ter vestígios parasitas de elásticos a aparecer na zona de sombra junto à sola da bota. Eu sabia que era possível ter sombras, mas não iluminei a bota diretamente, para não ficar com reflexos que poderiam ocultar os elásticos. Removi-os digitalmente, da parte da imagem que não tinha ficado suficientemente branca e ficou como se vê.

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José Maria Silva

3 comentários para “Como Se Fez – 9: Bota de Elásticos”

  1. Zé Maria, nunca sabemos o que vais inventar! Não fosse ser apenas uma bota e elásticos e serias incluído na categoria “renaissance man” – em versão sarrazolense, “engenhocas”!
    Luísa F

  2. A câmara escura é um espaço fantástico de experiência e fabrico de ilusões (de ótica, claro!). Quem se lembra das fotografias “de pensamento”, tão usadas nos anos 60 ?
    Gostei!
    Obrigada, Zé Maria.

  3. Mais um exemplo de grande criatividade! Com um domínio aprofundado da fotografia. Valeu!

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