Maria Ondina Braga
Maria Ondina deixou a sua cidade natal nos anos de 1950 para estudar línguas em Paris e Londres, onde se licenciou em literatura Inglesa pela Royal Asiatic Society of Arts. Prosseguiu os seus estudos em França e na Inglaterra, trabalhando como enfermeira.
Regressou a Portugal em 1964, depois de ter sido professora de inglês e português em Angola, Goa e Macau, e em 1982 parte de novo para lecionar português em Pequim. O Oriente marca a sua obra que abrange poesia, contos, novelas, romances e também crónicas e memórias.
Desenvolveu também a atividade de tradutora ecolaborou em várias publicações, entre elas Diário de Notícias, Diário Popular, A Capital, Panorama, Colóquio/Letras e Mulher.
Incluindo na sua bibliografia a poesia e as crónicas de viagem, Maria Ondina Braga afirmou-se como ficcionista, sendo considerada um dos grandes nomes femininos da narrativa portuguesa contemporânea.
De entre os prémios que recebeu, destacam-se:
1966 – Prémio do concurso de Manuscritos do SNI, por A China Fica ao Lado;
1970 – Prémio Ricardo Malheiros da Academia de Ciências de Lisboa, com Amor e Morte (Contos, traduzidos em espanhol, francês, polaco, húngaro, italiano, jugoslavo e alemão);
1991 – Prémio Eça de Queirós, por Noturno em Macau;
1998 – Grande Prémio de Literatura ITF 2000, com Vidas Vencidas.
Depois de ter vivido muitos anos em Lisboa, voltou a Braga, onde viria a falecer.
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– “Às tardes, de volta das aulas, neste meu estreito quarto atravancado de livros, olho em redor as paredes brancas, onde se destaca o colorido de uma ventarola chinesa, e depois o meu próprio rosto no espelho. Então, como a madrasta da Branca de Neve diante do cristal mágico, pergunto: «Haverá alguém mais triste do que eu?»”
in Estátua de Sal
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«…sozinha com a escrita. A escrita é a única coisa que tenho na vida. Digamos que é uma fatalidade».
_____________________________ _____________em entrevista ao Diário de Notícias
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Natal Chinês
Menino Jesus vestido
De quimono de brocado,
No Velho Império nascido,
Como pareces cansado…
Eu, sim, que venho da calma
E das neves dos caminhos;
Dei a volta ao mundo: a alma
Trago-a coroada de espinhos…
Mas tu, de olhinhos estreitos,
Jesus Menino dos chins,
Tu que recebes respeitos
De culis e mandarins.
Tu que derrubas os budas
Dos seus tronos levantados,
Tu tão triste? – É do Judas
Que te trai em meus pecados.
Nessa face de marfim
Quanta fadiga se encerra!
– Será da morte de mim
Ou da morte desta terra?
Vestes de preto encarnado,
Bodas de amor anuncias,
Porém o gesto magoado
Não diz senão agonias…
Emprestou-te o escultor
Sua própria e amarga sina.
Menino Jesus de dor,
Tu és a alma da China.
Maria José Leite
Classificado em: Escritores e Poemas
Adeus Maria Braga… 🙁