Como Se Fez – 13: Alucinação

Esta é complicada, seria mais fácil se fosse digital, mas não é.

As máquinas reflexas têm, por baixo do pentaprisma uma peça chamada (e que é um) vidro despolido. Só é visível quando se tira a objetiva. Este vidro tem o tamanho exato do negativo (neste caso 24X36 milímetros, que corresponde ao fotograma do rolo de 35 mm, ou seja, a altura dos 24 mais as margens perfuradas). É neste vidro que se projeta a imagem visível através da ocular, que o espelho existente por baixo desvia para o despolido. Já sabemos que, no momento do disparo, o espelho levanta para deixar passar a luz com destino à película, isto enquanto o obturador abre e fecha, voltando depois o espelho à posição inicial, de 45 graus.

Desenhei uma quadrícula sobre um retângulo de acetato com os 24X36 já referidos. Numerei linhas e colunas e coloquei o pequeno retângulo por baixo do vidro despolido e encostado ao mesmo. Olhando pela ocular via-se perfeitamente a quadrícula.

A seguir usei uma cartolina preta na qual recortei uma máscara e uma contra-máscara.

A máscara está visível dentro do copo. A contra-máscara é o resto da cartolina, que tinha aproximadamente o tamanho A4, ou seja, um retângulo preto com um buraco a meio, do feitio e tamanho da secção do copo. Portanto, se fossem encaixadas as duas peças, uma na outra, voltava a ficar o A4 inteiro.

A imagem é uma dupla exposição. Já sabemos que é possível armar o obturador sem que a película avance (Como Se Fez 9 – Bota de Elásticos). Coloquei o pedaço menor dentro do copo, que está iluminado em contraluz difusa, portanto a cartolina não ficou iluminada e fotografei. Não movi a máquina, que estava montada no tripé e desenhei num papel a posição da máscara na quadrícula, para saber onde iria ficar a outra imagem.

A segunda imagem não é minha, trata-se duma foto que ilustra uma monografia sobre o F-15. Coloquei o livro aberto, devidamente imobilizado e com a imagem paralela ao plano da película. Consultando a cábula desenhada, coloquei a contra-máscara à frente da objetiva até cobrir toda a área exceto a da máscara. Em princípio só iria aparecer imagem na parte preta da primeira foto, onde ficariam os F-15. Abri mais o diafragma para que não se notasse o contorno da contra-máscara, que até poderia nem ser necessária, pois a película já estava exposta naquela zona, mas às vezes há surpresas… A parte da imagem dos F-15 visível fora da máscara é consequência da abertura maior do diafragma.

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José Maria Silva

2 comentários para “Como Se Fez – 13: Alucinação”

  1. Incrível! Mais um exercício de pura criatividade!

  2. Muitas vezes me pergunto quantos relatórios, quantas estatísticas terão sido exigidas aos antigos inventores, que tanto nos legaram com a sua criatividade?…
    Mas isto sou eu a pensar…
    Obrigada pela tua teimosia em sonhar, nos intervalos da burocracia. 🙂

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