Matilde Rosa Araújo
“A alegria é sagrada, mas a tristeza merece muito respeito”.
Ficcionista, poetisa, cronista e pedagoga, estudou em casa com professores particulares até entrar, em 1945, na Faculdade de Letras, da Universidade Clássica de Lisboa, onde se licenciou em Filologia Românica. A esta formação juntou uma apurada educação musical, com a frequência do Curso Superior do Conservatório.
Foi professora, durante mais de quarenta anos, do ensino secundário técnico-profissional (do Barreiro a Portalegre, do Porto a Elvas), e lecionou a cadeira de Literatura Infantil, na Escola do Magistério Primário, de Lisboa, onde viria a ser formadora de professores.
A estreia literária, em volume, verificou-se com A Garrana (1943), que obteve o 1º. prémio do concurso “Procura–se um novelista” patrocinado pelo matutino O Século e pelo Rádio Clube Português. Mas foi só em 1956 que começou a publicar para crianças, com a edição, no nº. 3 de Graal, dos Poemas Infantis. No ano seguinte, O Livro da Tila vai dar início a uma vasta obra no domínio da literatura juvenil, área em que se notabilizaria.
Colaborou ativamente em jornais e revistas, com destaque para o Jornal do Fundão, A Capital, O Comércio do Porto, Jornal do Comércio, República, Diário de Lisboa, Comércio do Funchal, Diário de Notícias (do Funchal), Graal, Árvore, Vértice, Seara Nova, Litoral, Gazeta Literária, Colóquio-Letras, etc. Na Távola Redonda, além de poemas, publicou um emocionado texto evocativo de Sebastião da Gama.
A sua obra reflete a sua especial preocupação com as questões de âmbito pedagógico e com a evolução do estatuto da criança nas sociedades ocidentais, daí a organização de antologias centradas nessa temática, como, por exemplo, As Crianças, Todas as Crianças (1976).
Exerceu funções nos corpos diretivos da extinta Sociedade Portuguesa de Escritores e foi sócia fundadora do Comité Português para a UNICEF.
Em 1980, recebeu o Grande Prémio de Literatura para Crianças, da Fundação Calouste Gulbenkian e o prémio para o melhor livro infantil, pela mesma fundação, em 1996, pelo seu livro de poesia Fadas Verdes. Recebeu ainda o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e, em maio de 2004, foi distinguida com o Prémio Carreira, da Sociedade Portuguesa de Autores.
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Que o silêncio
Que o silêncio
Verde
Da floresta
Não saiba nunca
O silêncio
Negro
Das cinzas
Mãe, as flores adormecem
Mãe, as flores adormecem
Quando se põe o Sol!
Filha, para as adormecer
Canta o rouxinol…
Mãe, as flores acordam
Quando nasce o dia!
Filha, para as acordar
Canta a cotovia…
Mãe, gostava tanto de ser flor!
Filha, eu então seria uma ave…
Mãe, a Lua está tão cheia!
Mãe, a Lua está tão cheia!
Tão cheia!
Não se vai entornar?
A mãe abraçou o filho
Com seus braços de Lua Nova
Com seu coração de Quarto Crescente
E contou-lhe devagarinho
A história do Quarto Minguante.
Vida
– Mãe! O mundo é mau.
Torna a flor num lodo
E um pássaro num verme
E eu não sabia…
– Filha, semeia flores no lodo,
Empresta o teu canto ao verme.
Se tuas mãos continuarem puras
E meigo o teu coração,
Acredita que o mundo é belo
E saberás
Tangerina
Tangerina que tanges
O Sol do meio-dia
És cara de menina
Com pintas de alegria.
Teus gomos perfumados
Tua pele tão fina
Tangerina tão doce
Que vieste da China.
Quando ia para a escola
Teu perfume nas mãos
Teu perfume no bibe
Nos cadernos. No pão.
Tu eras tão bonita!
Eu era tão menina!
Que saudades eu tenho
Minha amiga da China!
Golo
Os meninos
Que jogam à bola na minha rua
Jogam com o Sol
E os pés dos meninos
São pés de alegria e de vento
A baliza uma nuvem tonta
À toa
Na luz do dia
E eu olho os meninos e a bola
Que voa
E ouço os meninos gritar: Go…o…lo!…
E não há perder nem ganhar
Só perde quem os olhos dos meninos
Não puder olhar.
MJLeite
Classificado em: Escritores e Poemas