António Manuel Couto Viana

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Filho de pai português e mãe espanhola, era o mais novo de três irmãos e cresceu no seio de uma família muito ligada às letras e às artes, sempre próximo da poesia e do teatro (construía teatros e personagens de papel com as duas irmãs), devorava livros e passava uma grande parte do seu tempo no Teatro Sá de Miranda, na sua cidade natal, aventurando-se em ambos os géneros literários ainda novo.

Nas suas palavras:

Eu gostava sobretudo dos livros de aventuras. Lia muito Júlio Verne, ele ensinava muito; creio que li toda a sua obra. Interessava-me a parte científica nos livros delelia muito, muito! Na quinta dos meus tios, eles tinham uma biblioteca e eu, às escondidas, ia lá buscar livros, lia-os à noite, à luz muito baixa do petróleo, ainda não havia eletricidade nessa aldeia. Procurava ler tudo o que o meu tio tinha na biblioteca; saía de casa sempre com um livro debaixo do braço… em miúdo, era uma pessoa doentiamente tímida e o teatro é que me libertou dessa timidez; entrava em cena e era outro, porque era a personagem que estava a interpretar, e as pessoas ficavam espantadas com a minha desenvoltura, com o meu à-vontade, quando sabiam que era uma pessoa tímida. Comecei muito novo a admirar o teatro.

Aos 23 anos, veio a mudança para Lisboa, com a família, a integração no meio intelectual e artístico da capital e as amizades para a vida com David-Mourão Ferreira e Sebastião da Gama, entre outros.

Publicou o seu primeiro livro de poesia, “O Avestruz Lírico”, em 1948, livro a que se seguiriam mais de cem obras. Os seus poemas estão traduzidos em francês, inglês, espanhol, chinês, alemão e russo.

Colaborou em numerosas revistas literárias, destacando-se a Camarada, dirigida a um público infantil, a Távola Redonda, de poesia, que dirigiu com David-Mourão Ferreira e outros, e a Graal, de cultura.

Contribuiu fortemente para a literatura infanto-juvenil não apenas com originais, mas também com traduções e adaptações de clássicos portugueses.

Em entrevista, quando questionado se há cuidados que é necessário ter quando se escreve para crianças e adolescentes, respondeu: Acho que sim. Está-se a formar o homem ou a mulher, e portanto temos de ter cuidado na maneira como os educamos. Cuidado nos enredos e na linguagem – não utilizo uma linguagem ordinária, reles, nem uma linguagem infantil, com diminutivos; procuro dar-lhes palavras que possam não conhecer, mas para que se preocupem em saber o que significam. Tenho também uma preocupação de formação cívica e moral – não lhes escondo o mal, penso que as crianças têm de estar preparadas para se defender da parte má da vida.

Sempre muito ligado ao teatro, sobretudo àquele destinado a públicos mais jovens, trabalhou como autor, encenador, cenógrafo, figurinista e até ator em casas como o Teatro Estúdio do Salitre, o Teatro do Gerifalto (de que era também diretor e empresário), o Teatro da Mocidade (onde acompanhou os primeiros tempos da carreira de autores como Rui Mendes, Morais e Castro, Francisco Nicholson, Fernanda Montemor, António Anjos, Alina Vaz e Catarina Avelar), a Companhia Nacional de Teatro, a Companhia Portuguesa de Ópera e o Teatro Nacional de São Carlos (de que foi mestre de cena até à reforma). Pertenceu à Direção do Teatro de Ensaio (Teatro Monumental), foi diretor e empresário da Companhia Nacional de Teatro (Teatro da Trindade) e orientador artístico da Oficina de Teatro da Universidade de Coimbra.

Foi membro da Academia de Ciências de Lisboa e recebeu vários prémios literários, entre os quais se destacam   o Prémio Antero de Quental, o Prémio Nacional de Poesia, o Prémio Fundação Oriente e o Prémio Academia das Ciências de Lisboa.

Viveu na Casa do Artista, em Lisboa, durante mais de uma década, até ao seu desaparecimento em 2010.

 

Consulte aqui a bibliografia.

 

O Dromedário Dário

Dorme, Dário Dromedário,

que amanhã vais ao deserto

aprender o abecedário,

num oásis aqui perto.

Porque o sono é necessário:

faz-te esperto!

 

Madrigal

 

Ainda é possível este amor

Como um regresso ao paraíso?

Aroma apenas de uma flor?

O beijo apenas de um sorriso?

Ainda é possível este amor?

Qual a resposta que preciso?

 

E nada digo! E nada dizes!

Tudo nos basta num olhar

E que tu, mão, lisa, deslizes

Por sobre a minha, devagar…

Com pouco somos tão felizes

Que é já demais pedir luar!

 

E é já demais esta poesia

Se há cada vez menos valor

Nas tais palavras que diria

Para dizer-te o som e a cor

De um coração em harmonia

Que só se diz, dizendo: Amor!

 

 

Leia aqui outros poemas do autor.

 

MJLeite

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