Mário Zambujal

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Há uma pequenina coisa que é uma importante coisa: é a ausência das coisas negativas. Ao passo que as pessoas mais exigentes da vida precisam que lhes aconteça alguma coisa de muito bom para estarem felizes ou contentes, outras há que têm outra maneira de encarar a vida, estão bem sem que lhes aconteça coisa nenhuma. E isto já é uma forma de estarem livres para saborearem o lado melhor da vida.

Iniciou-se como jornalista profissional em A Bola, em 1961, e é como jornalista que se considera e se sente. Costuma dizer que a história da sua vida se resume a anotar as etapas a partir dos jornais por onde passou. E foram muitos. Aos vinte e cinco anos, entrou para A Bola, sete anos mais tarde ingressou no Diário de Lisboa, que deixou no ano seguinte (1968), trocando-o pelo Record, então dirigido por Artur Agostinho. Em 1970, entrou para O Século, onde no 25 de Abril de 1974 era chefe de redação, mantendo-se na chefia até meados de 75, altura em que assumiu a direção do Mundo Desportivo, transitando depois para chefe de redação do Diário de Notícias, após os acontecimentos do 25 de Novembro.

O Sete, de que foi o primeiro diretor, foi a experiência seguinte, e depois o trabalho na televisão, cujo quadro integra atualmente.

Marcou presença no programa “Pão com Manteiga” (de que foi coautor) e também no teatro de revista, sendo coautor de peças que ficaram na memória, como “Não Batam Mais no Zezinho”, “Isto É Maria Vitória” ou “Toma Lá Revista”.

Autor de ficção, não leva esta atividade muito a sério, pois continua a considerar-se um jornalista que escreve para se divertir. Relativamente ao seu primeiro livro, Crónica dos Bons Malandros, publicado em 1980, disse ser “um trabalho de jornal que por acaso é ficção”. Esta obra (que teve “uma saída modesta nos primeiros três meses” e que o autor julgava que “se ficaria” pelo círculo de companheiros e amigos, como Mário Castrim, Augusto Abelaira, Francisco Mata, Luís de Sttau Monteiro, José Cardoso Pires, Fernando Assis Pacheco ou Carlos Pinhão), foi um dos primeiros “bestsellers” portugueses. Era, então, “O” livro que todos liam e de que todos falavam!

Sobre a obra, o jornalista e também escritor Dinis Machado escreveu: “Se isto não é literatura, quem perde é a literatura.” Sobre as qualidades mais ou menos literárias de Crónica dos Bons Malandros (que veio depois a ser adaptado para cinema), Mário Zambujal disse “Isso não me interessa nada. Na altura pareceu-me giro (é mesmo esta a palavra que quero usar) contar a história assim, da maneira que está. Podia ter encontrado uma forma mais literária de fazê-lo, mas não quis. Aquilo é uma banda desenhada por escrito.”.

 Destaque ainda para Histórias do Fim da Rua, publicado em 1983; À Noite Logo se Vê, em 1986; Primeiro as Senhoras, 2006 Já Não Se Escrevem Cartas de Amor, 2008; Longe é um bom lugar, 2011;Cafuné, 2012, entre outras.

 Em outubro de 2014, na companhia da filha, Isabel Zambujal (publicitária e também autora de vários livros infantis), lançou Serpentina, romance que nos conta, com o humor e a imaginação que o caracterizam, a vida tumultuosa de Bruno Bracelim, fazendo-nos rir, mas também refletir, com situações de um destino tão imprevisível quanto animado.

 É atualmente presidente do Clube dos Jornalistas.

A 30 de Julho de 1984 foi feito Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Consulte aqui a bibliografia.

À Procura de Um Poema

Um poema?
É para já. Poema
só pede inspiração
não é problema
ou teorema matemático.
Poema é liberdade
e vamos a ele
que se faz tarde.
Posso optar pelo dramático:
a morte
o ciúme
ou a má sorte
quando costume.
Em boa verdade
não faltam temas
para os poemas:
pôr-do-sol, lua cheia
as flores
odores
ondas na areia
o amor
pois, o amor.
Não é tema obsoleto
e puxa até para o soneto.
Confesso-me indeciso.
Paria já um poema
sobre o dilema
se fosse preciso.
Mas não é o rumo.
Fumo e penso
penso e fumo.
O poema que quero
tem de ser um grito
imenso
infinito
sincero.
Talvez protesto social.
Esquece.
É boa briga
mas não me parece
que consiga
ser original.
Decide-te: o quê?
Deixa, logo se vê.
Logo, não. Agora.
Empurra-me isso
do compromisso
e chegou a hora.
Então, pronto,
Só preciso de calma,
Poema também é conto
O poeta conta
enlevo ou afronta
que lhe vai na alma.
Já sei: a mulher
com quem me cruzei
uma tarde qualquer
na rua da Prata,
carnudos os lábios
olhos de gata
os passos sábios
caminha elegante
ondulante
cabelo solto
revolto
despenteado
anca estreita
cintura perfeita
rabo alçado.
Um manequim.
Passeava-se à toa
sandálias modernas
e quanto a pernas
– as melhores de Lisboa.
Mulher assim
nem no cinema.
Vale um poema.

in Tantas Mãos, a mesma Primavera

 

MJLeite

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