Como Se Fez – 38: Pena

Pena_2048Os leitores habituais desta rubrica deverão achar que finalmente aparece aqui uma foto normal, mas desenganem-se, não é. Trata-se de uma HDR, sigla referida no fim do “Como Se Fez 30 – Doze Menos Um”, publicado a 16 de março de 2015.

Esta técnica foi criada, na década de 1940, pelo fotógrafo americano Charles Wyckoff.

Vejamos então o que é a High Dynamic Range, ou Gama Dinâmica Elevada, para isso é necessário entendermos primeiro o que é a Gama Dinâmica, ou seja, a quantidade de luz, de diferentes intensidades, que a câmara consegue captar, independentemente da sensibilidade usada. A Gama Dinâmica é a diferença entre a parte mais clara e a parte mais escura de uma imagem. Se uma cena de alto contraste mostra uma diferença demasiado grande entre as áreas mais claras e as mais escuras, a câmara pode ter dificuldade em registar a gama completa, e o que estiver fora da Gama Dinâmica fica preto ou branco.

O f-stop (cada um dos pontos da abertura do diafragma) é a unidade de medida da Gama Dinâmica. Para ajudar a perceber, vejamos este exemplo: A relação entre a região mais clara e a mais escura de uma imagem a captar é indicada em potências de 2. Se uma cena tem uma Gama Dinâmica de 3 f-stops, significa que a zona mais clara é 8 vezes mais brilhante que a mais escura, pois os 3 f-stops são (2X2X2)=8.

Enquanto a Gama Dinâmica do olho humano é imensa, pois conseguimos ver muitos detalhes, mais do que a câmara normalmente capta, porque o olho se adapta àquilo que pretendemos ver, reajustando-se automaticamente para cada um dos elementos existentes na imagem; a câmara, depois de ajustada, capta uma só cena.

O olho, considerando um ângulo de 60 graus e uma visão de 20/20, consegue processar o equivalente a 52 Megapíxeis, no entanto, é o cérebro que trata do assunto, pois cria a imagem total, resultante das várias observações do “saltitar” constante da nossa visão. Porém, nunca é possível ver tanto pormenor com um simples olhar, basta um desvio de 20 graus relativamente à visão central e ficamos a perceber menos de um décimo do detalhe. Na visão periférica apenas detetamos altos contrastes e praticamente não vemos cor. Apesar disto, o olho humano tem uma Gama Dinâmica de que ultrapassa os 24 f-stops, enquanto as reflex digitais, em ficheiros RAW (são maiores e não têm compressão), alcançam 12.

Link para Visão 20/20:

http://mimeosseusolhos.blogspot.com/2013/12/qual-o-significado-de-uma-visao-2020.html

Se considerarmos a Gama Dinâmica da visão instantânea, na qual a abertura da pupila é inalterada, ficamo-nos pelos 10 a 14 f-stops, o que ultrapassa a maioria das câmaras compactas e fica muito próximo das reflex.

As imagens HDR tentam tornar a fotografia mais semelhante àquilo que vemos, captando o máximo detalhe tanto nas luzes como nas sombras, acentuando os claros nas zonas escuras e os escuros nas claras. Para isto é necessário fundir na mesma imagem, pelo menos, três fotos: -uma normal; -uma tirada com aproximadamente 2 EV a menos que ficará escura; -outra com os mesmos 2 EV a mais, que ficará clara. A junção das três (ou cinco, mais do que isto é inútil) imagens, desde os 2 EV a menos até aos 2 EV a mais, é que aumenta a Gama Dinâmica, que assim fica Elevada. À imagem inicial do Palácio da Pena, no início deste artigo, foi acrescentada uma com 1 EV para a esquerda e outra como o mesmo para a direita do zero.

Link em inglês para EV (Exposure Value):

   http://en.wikipedia.org/wiki/Exposure_value

Para a captação, a câmara usa-se sobre um tripé, de forma garantir que a área abrangida seja a mesma, deverá ter as compensações automáticas desligadas, sensibilidade igual para todas as imagens e prioridade à abertura, que terá de ser a igual, para que não haja alterações na profundidade de campo. O que vai variar é a velocidade do obturador. Se a câmara tiver essa funcionalidade, deve usar-se o Auto Bracketing, que previamente se ajustou para +2 e -2 e fazer o disparo em rajada usando um disparador ou o temporizador. O formato deve ser o RAW, que tem mais informação, não perde qualidade com as gravações sucessivas, mas a sua gravação é mais demorada.

Link para Auto Bracketing:

http://www.cameraversuscamera.com.br/dic/bracketing.htm

Naturalmente, convém evitar cenas de exterior em dias de vento, para que a folhagem não fique tremida e a água, se estiver presente, também deve estar pouco agitada.

A fusão das imagens é feita num programa de edição de imagem, onde é possível fazer ajustes, entre os quais a Saturação, Brilho, Contraste e outros. Alguns programas permitem simular o HDR só com uma imagem, não é bem a mesma coisa, mas é melhor que a imagem simples.

Muitas câmaras atuais já trazem a função HDR incorporada.

Esta técnica resulta melhor nas horas de pouca luminosidade, com o Sol relativamente baixo.

No fundo estão mais quatro exemplos de HDR: Barcos na doca de Belém, Nascer da Lua no outro lado da rua, Patinho no Parque de Monsanto.

Não esquecer: Para ver num tamanho ligeiramente maior qualquer imagem desta  Categoria (Como Se Fez), utilizar o Menu de Contexto (clique direito do rato) e escolher a opção: “Ver imagem” ou “Abrir imagem num novo separador”, colocando em seguida o referido separador à frente. Dependendo do Navegador, pode ser necessário, em vez dos procedimentos indicados, copiar o URL da imagem (nas Propriedades) e colá-lo numa nova Barra de Endereços. No Edge apenas é possível “Guardar imagem como”.

OutrasHDR

José Maria Silva

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