Foi a 17 de dezembro…
Orville aos comandos e Wilbur ao lado, em 1903
A finalidade era voar de forma controlada, utilizando propulsão própria, descolando e aterrando pelos seus próprios meios. Era o conceito de avião que se procurava, não se tratava de planadores, balões ou dirigíveis, que já andavam pelos ares desde a segunda metade do séc. XVIII ou mesmo desde 1709, se contarmos com as experiências realizadas por Bartolomeu de Gusmão.
Foram vários os pioneiros da aviação que antecederam os Wright nas tentativas de voo com propulsão própria.
Treze anos antes de Wilbur e Orville, O “Éole” do engenheiro francês Clément Adler, com um motor a vapor, voou, mas nunca alcançou os 30 centímetros de altitude e apenas o conseguiu por escassos segundos. Ader terá construído outros aparelhos que se limitaram a realizar pequenos saltos.
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Gustave Whitehead reclamou os louros para si, mais de dois anos antes dos Wright, devido ao suposto voo realizado a 14 de agosto de 1901, no entanto, faltam provas ou testemunhos fiáveis. O relato mais detalhado corresponde a um voo anterior e é de um ferreiro, que supostamente teria ajudado Whitehead. Disse, em 1934, ter sido realizado um voo, em abril ou maio de 1899, com a ambos a bordo, ao longo de quase um quilómetro, porém o aparelho não ganhou altura suficiente para evitar um edifício de três pisos e embateu nele. O passageiro terá ficado severamente queimado pelo vapor, enquanto Whitehead ficou ileso, por estar na dianteira de fuselagem. Não há registos da passagem pelo hospital onde o autor deste testemunho terá ficado vários meses.
Whitehead em frente do seu Weisskopf No 21
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Outro suposto pioneiro anterior aos Wright, terá sido o fundador do “Smithsonian Astrophysical Observatory”, Professor Samuel Langley, que conseguiu atrair investidores para os seus projetos, começando por construir aviões a vapor não tripulados. Depois das experiências com modelos à escala, um exemplar de tamanho real, com lugar para o piloto, estava pronto para ser testado. Este aparelho era lançado de uma plataforma flutuante construída para o efeito sobre o rio Potomac… se a experiência fosse mal sucedida, a aeronave cairia na água. Depois de tentativas falhadas devido a pormenores técnicos, a 7 de outubro de 1903 foi o lançamento. A força da catapulta danificou a estrutura das asas logo no arranque. Dois dias depois, noutra tentativa, a asa traseira e a cauda do aparelho ficaram destruídas no lançamento.
O curto voo do aparelho de Langley
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Com os irmãos Wright também nem tudo correu sempre bem.
A 14 de dezembro foi o primeiro voo, que, apesar da grande expectativa e da presença da imprensa, só durou 3 segundos, elevou-se demasiado cedo, subiu cerca de 4 metros, percorreu 30 metros e entrou em perda. Ficou impossível de reparar no próprio dia. Wilbur aos comandos saiu ileso.
Foi a 17 de dezembro de 1903 que os irmãos Wright –Wilbur de 36 anos e Orvile, de 32– marcaram a História da Aviação, conseguiram, finalmente, erguer no ar o primeiro avião. Um aparelho com 337 kg e um motor de 12 cavalos, no litoral de Kitty Hawk, perto de Kill Devill Hills, local de ventos fortes e constantes, na Carolina do Norte.
Este primeiro voo, com propulsão própria, estável e controlado durou apenas 12 segundos, tendo percorrido uma distância de 36, 5 metros, a uma altura de 3 metros, com Orville aos comandos. No mesmo dia, Wilbur conseguiu voar durante 59 segundos. Ao seu primeiro pássaro mecânico, os irmãos Wright chamaram Flyer (voador).
Jornais do dia seguinte publicados na terra natal dos Wright
Este feito teve pouca publicidade, tendo chegado a ser posto em dúvida, apesar da presença de jornalistas a assistir. Só a partir de 1905, após inúmeros voos e novas versões do Flyer, os Wright conseguiram captar a atenção do público. Wilbur fizera um voo de 25 milhas a bordo do Flyer III e deixou de haver margem para dúvidas.
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Para escrever este texto foram consultadas as seguintes publicações em papel:
-Jackson, Donald Dale, (1981). The Aeronauts, Alexandria, Virginia USA: Time-Life Books Inc.
-Moolman, Valerie, (1980). The Road To Kitty Hawk, Alexandria, Virginia USA: Time-Life Books Inc.
-Weissenborn (Prof), G.K., (1988). Did Whitehead Fly?, Air Enthusiast Number Thirty-Five, Leicester, England: William Green and Gordon Swanborough, pp. 19 e seguintes.
JML
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