Conhecimento e Cidadania
O tempo que estamos a viver alarga o fosso entre os que estudam e, assim, aspiram e conquistam o direito à cidadania, e os outros, os que não veem qualquer interesse no estudo.
Em complemento da sua nobre missão de ensinar, o professor deve fazer sentir esta realidade aos seus alunos, em especial aos mais desprotegidos e atingidos pela exclusão social que grassa em tantas escolas marcadas pela suburbanidade crescente que carateriza as sociedades desenvolvimentistas. Transmitir esta mensagem aos jovens é um dever moral dos professores, essencial na luta contra o insucesso escolar e pelo direito a uma condição humana de maior dignidade. Não é fácil, mas não é impossível esta tarefa. É bom lembrar que cidadania e conhecimento são indissociáveis e, assim, este tem forçosamente de ser democrático.
O profissional de ensino tem de ter arte (por vocação própria ou porque para tal foi formado) de levar os educandos a “aprenderem a gostar de saber” e, assim, sentirem interesse pelas matérias que tem, por dever, transmitir-lhes; levá-los a terem prazer no convívio com ele e, por esta via, verem a escola como algo importante nas suas vidas.
Mas há outras chaves para o referido sucesso, a considerar face aos alunos mais crescidos, que também a experiência me ensinou. Uma, é conseguir inculcar neles a noção do “dever cívico de estudar”, levando-os a tomarem consciência do privilégio que têm na condição de estudantes e das suas obrigações face à sociedade que os sustenta.
A outra chave não menos importante é estimular-lhes a “autoestima”.
Fundamental no binómio ensino /aprendizagem, compete, em grande parte, ao docente, conduzir o aluno nesses três sentidos. Quaisquer que sejam as matérias em causa ou os níveis de escolaridade e etário do discente, estas chaves fazem dele alguém que tem gosto em aprender, que frequenta a escola com prazer, que encara o estudo como um dever de cidadania e tem brio na sua condição de estudante. Para tal, o professor tem de conseguir estabelecer com o aluno uma aproximação de confiança e afetividade mútuas que lhe permita actuar, com êxito, nestas vertentes.
Foi assim a minha relação com os muitos milhares de alunos com quem troquei saberes e afectos.
Quem ensina tem de saber ganhar a confiança dos alunos e, também, o seu afecto. Feliz do estudante que goste da convivência com o seu professor, pois essa relação é decisiva na sua atitude face à escola e ao gosto de aprender. Duplamente feliz se esse professor estiver à altura do seu papel que, para além de educacional é, sobretudo, social.
A. M. Galopim de Carvalho
Classificado em: Editorial, Histórias de vida
Uma mensagem de grande significado e impacto. Obrigado Professor pelo seu testemunho.