Almeida Faria

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Benigno José de Almeida Faria nasceu a 6 de Maio de 1943 em Montemor-o-Novo, filho de Benigno d’Almeida Faria, também daqui natural, e de D. Bernardina Leão de Mira, de Arraiolos. O seu avô paterno, Bernardino de Matos Faria, era proveniente de Belver, na Beira Baixa e foi comerciante. Era republicano e agnóstico, como toda a família paterna do escritor.

Quando Almeida Faria nasceu, a família tinha residência no Rossio e aí viveu os primeiros anos. Entretanto os pais mudaram-se para a rua das Pedras Negras, onde viria a escrever os primeiros romances. Iniciou o ensino secundário no Externato Mestre de Avis, que continuou no liceu de Évora a partir do 6º ano. Aí foi aluno do grande escritor Vergílio Ferreira, o qual veio a motivar a sua transferência para Lisboa, no 7º Ano, quando o professor passou a lecionar no liceu Camões.

No meio social em que vivera a adolescência o tradicionalismo coexistia com um sentimento de revolução latente. A vila pacata vivia ainda sob o controle apertado dos representantes locais do Estado Novo. A vida cultural era praticamente inexistente. Montemor, como todo o Alentejo, era uma terra fora do tempo, à margem da história, sentindo-se ainda assim o nascimento da revolta dos camponeses explorados.

O seu pai destacou-se na oposição democrática local à ditadura, tendo apoiado as candidaturas de Norton de Matos e de Humberto Delgado à Presidência da República, o que moldou o caráter e a consciência cívica de Almeida Faria e se manifestou nos seus romances de forma viva e original.

Em 1962, com 19 anos, publicou o primeiro livro, “Rumor Branco”, que Vergílio Ferreira prefaciou e que obteve o Prémio Revelação de Romance da Sociedade Portuguesa de Escritores.

Frequentava nesse tempo a Faculdade de Direito de Lisboa, não acabando o curso devido ao seu envolvimento na contestação estudantil. Depois disso veio a concluir a Licenciatura em Filosofia na Faculdade de Letras da mesma universidade.

Em 1968, foi para os Estados Unidos como bolseiro do International Writing Program e, no ano seguinte, para a Alemanha Federal.

“A Paixão” e o conjunto dos três romances seguintes (“Cortes”, “Lusitânia” e “Cavaleiro Andante”), a que chamou “Tetralogia Lusitana”, narram o drama de uma família de proprietários agrícolas numa vila imaginária do Alentejo – Montemínimo – dos últimos tempos da ditadura até ao pós-25 de Abril.

Em 1982 publicou o conto “ Os Passeios do Sonhador Solitário”, em 1990 o romance “o Conquistador”, em 1998 “Vozes da Paixão” e, em 1999, “A Reviravolta”.

Além dos prémios já acima referidos, recebeu ainda a Medalha de Mérito Cultural, atribuída pelo Ministro da Cultura e entregue na Biblioteca de Montemor-o-Novo; em 2000, o Prémio “Vergílio Ferreira”, atribuído pela Universidade de Évora; Prémio Aquilino Ribeiro da Academia das Ciências de Lisboa com a obra “Cortes”, em 1978; Prémio Dom Dinis da Fundação da Casa de Mateus com a obra “Lusitânia” , 1980; Prémio Originais de Ficção da Associação Portuguesa de Escritores com a obra “Cavaleiro Andante”, em 1983; Prémio Universidade de Coimbra , em 2010.

A sua obra tem sido objeto de teses universitárias, estando traduzida em nove línguas.

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A atribuição do nome de Almeida Faria à Biblioteca Municipal de Montemor-o-Novo deve-se ao facto de o escritor ser uma das mais destacadas personalidades nascidas nesta cidade, por o ambiente montemorense e alentejano ter servido de inspiração à sua obra e estar presente nela de forma vincada e pelo carinho que Almeida Faria tem dedicado à Biblioteca da sua cidade natal, à qual ofereceu a sua biblioteca particular.

Dado a longos silêncios literários, revelou há tempos no programa “Ensaio Geral” da Renascença que está a escrever o seu próximo romance.

 “Gosto muito de escrever, mas publicar não me dá muita alegria. Publicar tem este inconveniente, temos que ser solidários com o editor, que é meu amigo, e temos de fazer algum esforço para que os livros sejam conhecidos. Publicar mais um livro que não sou obrigado a editar, de facto, é meter-me em novos sarilhos”.

 Almeida Faria considera que, hoje em dia, arrisca-se menos do que no período do 25 de Abril de 1974, na contestação contra o poder instituído.

 “Na altura, nós arriscávamos a pele, pelo menos a cabeça, houve muita gente que levou pancada da polícia, no dia do estudante e nas manifestações do 1º de Maio. Os riscos eram maiores. Agora, as pessoas arriscam menos,…Para mim, toda a contestação é muito saudável. Eu sou um contestatário por natureza, tenho muito prazer no espírito de contradição, gosto de contestar, de duvidar, de opor-me às opiniões dominantes e tudo o que seja contestar, …”

 

MJLeite

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