Manuel Alegre

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Personagem polifacetada da cultura e política portuguesa, estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um ativo dirigente estudantil (trilhando os caminhos feitos pelo seu trisavô, que organizou a primeira revolta contra D. Miguel, e do seu avô materno, que foi um dos fundadores da República).

 Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado. Foi fundador do CITAC (Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra), membro do TEUC (Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra), campeão nacional de natação e atleta internacional da Associação Académica de Coimbra. Dirigiu o jornal A Briosa, foi redator da revista Vértice e colaborador de Via Latina.

 A sua tomada de posição sobre a ditadura e a guerra colonial levam o regime de Salazar a chamá-lo para o serviço militar em 1961, sendo colocado nos Açores, onde tenta uma ocupação da ilha de S. Miguel, com Melo Antunes. Em 1962, é mobilizado para Angola, onde dirige uma tentativa pioneira de revolta militar. É preso pela PIDE em Luanda, em 1963, durante 6 meses. Na cadeia, conhece escritores angolanos como Luandino Vieira, António Jacinto e António Cardoso. Colocado com residência fixa em Coimbra, acaba por passar à clandestinidade e sair para o exílio em 1964.

Passa dez anos exilado em Argel, onde é dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional. Aos microfones da emissora A Voz da Liberdade, a sua voz converte-se num símbolo de resistência e liberdade. Entretanto, os seus dois primeiros livros, “Praça da Canção” (1965) e “O Canto e as Armas” (1967), são apreendidos pela censura, mas passam de mão em mão em cópias clandestinas. Poemas seus, cantados, entre outros, por Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e Luís Cília, tornam-se emblemáticos da luta pela liberdade. Regressa finalmente a Portugal em 2 de Maio de 1974, dias após o 25 de Abril.

Entra no Partido Socialista onde, ao lado de Mário Soares, promove as grandes mobilizações populares que permitem a consolidação da democracia e a aprovação da Constituição de 1976, de cujo preâmbulo é redator.

Deputado por Coimbra em todas as eleições desde 1975 até 2002 e por Lisboa a partir de 2002, participa no I Governo Constitucional formado pelo Partido Socialista. Dirigente histórico do PS desde 1974, é Vice-Presidente da Assembleia da República desde 1995 e é membro do Conselho de Estado (de 1996 e 2002 e de novo em 2005). É candidato a Secretário-geral do PS em 2004, naquele que foi o mais participado Congresso partidário de sempre.

Em 2005 anunciou a sua candidatura à Presidência da República, como independente e apoiado por cidadãos, disputando as eleições com Aníbal Cavaco Silva, Mário Soares, Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e Garcia Pereira. Perdendo para Aníbal Cavaco Silva, ficou em segundo lugar e à frente de Mário Soares, com mais de um milhão de votos.

Em 23 de Julho de 2009 despediu-se do lugar de Deputado, que ocupou durante 34 anos e que deixou por vontade própria nas legislativas de Setembro. Foi reeleito para o Conselho de Estado em Novembro de 2009.

É sócio correspondente da Classe de Letras da Academia das Ciências, eleito em Março de 2005.

Em Abril de 2010, a Universidade de Pádua inaugura a Cátedra Manuel Alegre, destinada ao estudo da Língua, Literatura e Cultura Portuguesas.

Tem edições da sua obra em italiano, espanhol, alemão, catalão, francês, romeno e russo.

Em Janeiro de 2010, Manuel Alegre anuncia a sua disponibilidade para travar mais uma vez o combate das presidenciais em 2011 e em Maio de 2010 apresenta formalmente a sua candidatura à Presidência da República, perdendo de novo para Cavaco Silva.

 

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Balada de Lisboa

Em cada esquina te vais

Em cada esquina te vejo

Esta é a cidade que tem

Teu nome escrito no cais

A cidade onde desenho

Teu rosto com sol e Tejo

 

Caravelas te levaram

Caravelas te perderam

Esta é a cidade onde chegas

Nas manhãs de tua ausência

Tão perto de mim tão longe

Tão fora de seres presente

 

Esta é a cidade onde estás

Como quem não volta mais

Tão dentro de mim tão que

Nunca ninguém por ninguém

Em cada dia regressas

Em cada dia te vais

 

Em cada rua me foges

Em cada rua te vejo

Tão doente da viagem

Teu rosto de sol e Tejo

Esta é a cidade onde moras

Como quem está de passagem

 

Às vezes pergunto se

Às vezes pergunto quem

Esta é a cidade onde estás

Com quem nunca mais vem

Tão longe de mim tão perto

Ninguém assim por ninguém

in “Babilónia”

 

Agora Mesmo

Está gente a morrer agora mesmo em qualquer lado

Está gente a morrer e nós também

 

Está gente a despedir-se sem saber que para

Sempre

Este som já passou Este gesto também

Ninguém se banha duas vezes no mesmo instante

Tu próprio te despedes de ti próprio

Não és o mesmo que escreveu o verso atrás

Já estás diferente neste verso e vais com ele

 

Os amantes agarram-se desesperadamente

Eis como se beijam e mordem e por vezes choram

Mais do que ninguém eles sabem que estão a

                               [despedir-se

 

A Terra gira e nós também A Terra morre e nós

Também

Não é possível parar o turbilhão

Há um ciclone invisível em cada instante

Os pássaros voam sobre a própria despedida

As folhas vão-se e nós

Também

Não é vento É movimento fluir do tempo amor e morte

Agora mesmo e para todo o sempre

Amen

in “Chegar Aqui”

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Maria José Leite

 

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