Júlio Dinis

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  “Não tenteis a louca empresa de aniquilar o sentimento, espíritos áridos que infundadamente o temeis, como coisa desconhecida à vossa alma seca e estéril. Quem deveras confia nos destinos da humanidade não tem medo das lágrimas. Pode-se triunfar, com elas nos olhos.”

                                                                                         in A Morgadinha dos Canaviais

Júlio Dinis, pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho, nasceu no Porto e foi entre esta cidade, Ovar e o Douro que passou grande parte da sua vida. Tinha seis quando a sua mãe morreu com tuberculose, a doença que se assumiria como uma tragédia familiar, já que os seus oito irmãos, e mais tarde, também ele, foram vítimas desta doença.

Pouco se sabe acerca sobre a sua infância e adolescência. Terá iniciado os estudo em Miragaia e, após  concluir o liceu, frequentou  a Academia Politécnica do Porto, matriculando-se na Escola Médico-Cirúrgica do Porto,  no ano letivo de 1856-57, onde concluiu o curso de Medicina. Considerando a profissão de médico de “grande responsabilidade e de alguma desumanidade”, decidiu seguir a carreira de professor e concorreu ao lugar de demonstrador na escola onde se tinha formado, conseguindo o lugar, em 1865.

Aliando a atividade profissional à escrita, por diversas vezes a doença o obrigou a mudar-se para ambientes rurais, como Ovar e Funchal,esperançado em encontrar cura no ambiente mais saudável da província. Foi em Ovar, em 1863, que se apaixonou por um tipo de romance diferente do que tinha vindo a escrever, o romance rural. Até então, as suas obras tinham um caráter lírico, novelístico e de romance citadino. Utilizou pela primeira vez o pseudónimo Júlio Dinis em 1860, quando enviou textos de poesia para a revista “Grinalda”. Ninguém sabia quem era Júlio Dinis, mas todos gostaram dos poemas. Três anos após o seu falecimento, em 1874, foi publicado o livro “Poesias” que reúne mais de cem poemas.

Também utilizou o pseudónimo “Diana de Aveleda” em textos publicados no Jornal do Porto.

Atendendo à época em que viveu, seria natural situá-lo no ultrarromantismo. Porém, devido à sua educação científica, tinha uma visão bem mais real e verdadeira que a dos autores ultrarromânticos. Também não deverá ser integrado no Realismo – Naturalismo que começou com as Conferências do Casino da geração de 70, de Eça de Queirós. Podemos, sim, dizer que ele foi o percursor desta corrente literária no nosso país, o que levou a que fosse considerado o inaugurador da escola naturalista.

As suas obras “Os Fidalgos da Casa Mourisca”, “As Pupilas do Senhor Reitor” e “A Morgadinha dos Canaviais” foram adaptadas para o cinema e também para televisão.

Com trinta um anos apenas morreria aquele que foi por muitos apelidado de “o mais suave e terno romancista português, cronista de afetos puros, paixões simples, prosa limpa”.

 

Consulte aqui a bibliografia.

 

Não meças o amor pelo tempo que dura;

 Ontem amei-te mais nessa hora tão ligeira,

 Senti maior prazer, gozei maior ventura,

 Do que se ao pé de ti passasse a vida inteira.

 

Deixa que esta paixão termine com o dia,

 Efémera recém-nascida à madrugada,

 E que ao cair do sol, nessa hora de poesia,

 Deixou pender no chão a fronte desfolhada.

 

Fiquemos sempre assim, um ao outro ignorados

 Nestas vagas regiões duma paixão nascente.

 Sigamos cada um caminhos separados;

 Com uma hora de amor a alma é já contente.

 

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MJLeite

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