Conceição Lima

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Natural de Santana, São Tomé e Príncipe, onde fez os estudos primários e secundários, veio depois para Portugal estudar jornalismo, obtendo o diploma.

Em São Tomé e Príncipe trabalhou na rádio, na televisão e na imprensa escrita, fundando, em 1993, o semanário independente O País Hoje, no qual exerceu a função de diretora até a data da sua extinção.

É licenciada em Estudos Afro-Portugueses e Brasileiros pelo King’s College de Londres, tem uma especialização em Governos e Políticas em África e é mestre em Estudos Africanos, ambos pela School of Oriental and African Studies (SOAS) de Londres.

Foi durante anos produtora dos serviços de língua portuguesa na BBC de Londres. Exerceu cargos de direção de rádio, televisão e em periódicos do seu país, aonde chegou a ser produtora e coordenadora do principal sistema de Televisão, a TVS -Televisão São-Tomense.

Começou a escrever poemas na sua juventude. Em 1979, com apenas dezanove anos, viajou até Angola, onde participou na Sexta Conferência de Escritores Afro-Asiáticos e aí recitou alguns dos seus poemas, sendo, provavelmente, a mais jovem dos ali presentes. A autora considera esta a primeira fase da sua carreira como poeta, seguindo-se-lhe a publicação dos seus poemas em jornais, revistas e antologias. Afirmou-se no período pós-colonial como uma das principais poetas contemporâneas da África de língua portuguesa.

Diz que foi o pai  quem lhe ensinou o poder das palavras, pois este, quando ela era ainda pequena, compunha músicas para a mãe quando ela se zangava com ele. Apercebeu-se então de que as palavras tinham o poder de trazer a paz, porque a mãe fazia as pazes com ele, no entanto, também lhe mostrou que as palavras ferem, pois para a mãe estar zangada é porque antes o pai a tinha magoado com palavras.

Estreou-se com “O Útero da Casa”, coletânea de poemas, sobre a qual disse Urbano Tavares Rodrigues:

         “O Útero da Casa” é um livro diferente. Obra de análise íntima, traz-nos por vezes a meia voz, através da saudade e da mitificação das coisas amadas, a cor e a alma da ilha mãe de São Tomé, a sua dengue beleza, sua viuvez, seus palmares, o cantar dos búzios, a casa (o útero) centro do mundo, presente e futuro. Alta, perpétua claridade, pedra de reunião.

         Nestes versos em que se confrontam criaturas e lugares do outrora, que o tempo magnifica, com a nitidez do hoje, ouvimos a brisa nos canaviais, sentimos o odor do café e do cacau, vemos os ibiscos e o barro vermelho, o perfil da mesquita, a cidade morta, o mar.

       “Lê-se a mátria na terra sensual, até na luz da fruta, no sangue da lua, nas mãos de húmus e basalto.

       “Conceição Lima escreve-se, em ideia e corpo, na carne viva da ilha”.

Seguiram-se-lhe, em 2006, “A Dolorosa Raiz do Micondó” e “O País de Akendenguê”, em 2011.

A sua poesia é uma forma de resgatar o seu passado e o do seu povo profundamente marcado pela ação colonialista, é a tentativa de uma (re)construção identitária após o processo de descolonização, o surgimento de grupos nacionalistas, nos anos 1960, até a conquista da independência em 1975, sabendo-se que a liberdade partidária esteve condicionada durante muitos anos, iniciando-se apenas em 1990 a transição para a democracia, com a institucionalização do pluripartidarismo e a adoção de uma nova constituição.

 

O vendedor

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Os olhos vagalumem como pirilampos

no encalço dos fregueses

Do fio que é a mão esvoaçam

sacos de plástico

precários, multicores balões

 

A Feira do Ponto é o seu pátio.

 

Ao fim do dia, parcimonioso,

devolve a bolsa das moedas a um adulto

e recupera a idade.

 
Pressa

Ficam mais curtas as horas

Se tombam caminhos.

 

 Oculto

 Não lhe vi o rosto

Não lhe viste o rosto

Não lhe viram o rosto

Não lhe vimos o rosto

Estava de bruços.

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Leia aqui outros poemas da autora.

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MJLeite

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