Lília Momplé

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Quem não sabe de onde vem não sabe onde está nem para onde vai.

                                                                                                                                 in “Neighbours”

Concluídos os estudos secundários em Lourenço Marques, atual Maputo, matriculou-se em Filologia Germânica, curso que frequentaria durante dois anos, optando pela licenciatura em Serviço Social no Instituto Superior do Serviço Social de Lisboa.

Depois de uma temporada na Grã-Bretanha, decorria o ano de 1964, e de uma outra no Brasil, entre 1968 e 1971, regressou a Moçambique em 1972.

Assistente social de profissão (em Lisboa, Lourenço Marques e em São Paulo), foi professora de Inglês e Língua Portuguesa na Escola Secundária de Ilha de Moçambique e diretora da mesma escola entre 1970 e 1981.

Foi diretora do Fundo para o Desenvolvimento Artístico e Cultural de Moçambique, integrado na Secretaria de Estado da Cultura, e Secretária Geral da Associação de Escritores de Moçambique (AEMO), no período de 1995 a 2001, acumulando nos últimos quatro anos a função de Presidente da Instituição, pugnando aí pela maior visibilidade da escrita das mulheres. Foi também representante do Conselho Executivo da UNESCO, no período compreendido entre 2001 e 2005.

Colaborou em diversos jornais e revistas e os seus livros  Ninguém matou Suhura (contos, 1988), Neighbours (romance, 1996) e Os olhos da cobra verde (contos, 1997) ocupam lugar de destaque na literatura moçambicana, assumindo-se como memória da violência e da arbitrariedade do colonialismo, como combate  contra aquilo que designa de “amnésia social”. Na sua escrita, está presente o papel tradicional das mulheres, as expectativas que têm e que os outros têm sobre elas, e os obstáculos a enfrentar, bem como questões relacionadas com a raça, a classe social, o género e a origem étnica.

Se as histórias da avó foram a sua inspiração, porque os seus heróis eram muitas vezes criaturas frágeis, em vez dos habituais poderosos, também escritores portugueses, como Eça de Queirós e Fernando Pessoa, a influenciaram, afirmando que se tornou escritora depois de ler os versos do poeta moçambicano José Craveirinha.

“Sempre soube que um dia iria escrever. Um dos motivos que me levou à escrita foi ter nascido na Ilha de Moçambique. Aquela ilha inspira. É uma Ilha mítica e mágica para mim. A ilha de Moçambique deu-me uma inspiração muito importante para minha vida como escritora. A outra inspiração foi a minha avó, uma linda macua que tinha por hábito adormecer-me a contar estórias em macua, quando tinha entre 6 e 8 anos de idade. A minha avó fez-me querer ser uma boa contadora de estórias como ela. Tive também dois professores que liam as minhas redacções para outras turmas, como exemplo. Isso fez-me pensar que “se os professores gostam tanto das minhas redacções é porque não escrevo mal”.

[…]

          “ E houve um outro acontecimento que significou muito para mim: aos 13 anos, estudei no Liceu Luís Salazar, uma escola que era apenas para brancos e pessoas com as melhores condições. Eu era a única negra e a minha mãe teve que fazer muito sacrifício para que eu estudasse lá. Ela passava noites a costurar para poder pagar a minha escola, foi uma fase muito difícil. Foi mesmo um acto heróico estudar lá.

Tive um professor de que não esqueço o nome, Rodrigues Pinto, era professor de língua portuguesa. Mandou-nos fazer uma redacção sobre o último dia de férias.

Feita a redacção e chegada a hora de entrega dos trabalhos depois de avaliadas, ele foi chamando cada aluno para ir buscar o seu trabalho e o meu foi último. Confesso que fiquei com medo quando não me chamou. Quando terminou a entrega dos trabalhos aos outros, ele chamou-me e disse que o meu trabalho era magnífico. Leu a redacção em toda a escola. Fiquei muito orgulhosa. Toda a escola me apontava no pátio por ter feito o melhor trabalho. Isso marcou-me muito e cada vez mais acreditava que um dia ia escrever.”

Em 2001, foi distinguida com o Prémio Caine para Escritores de África, com o conto “O baile de Celina”, a que se seguiu o Prémio de Novelística no Concurso Literário do Centenário da Cidade de Maputo, com o conto “Caniço”, e em 2011 o Prémio José Craveirinha de Literatura.

 Atualmente faz parte do «Internacional Who´s Who of Authores and Writers» e é membro, desde 1997, de «Honorary Fellow in Literature» da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos da América.

A sua obra está traduzida em inglês, francês, italiano e alemão.

MJLeite

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